quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Por onde anda o Vitinho?

São 21h24 minutos (a acreditar no relógio do computador) e tenho a meu lado uma criança de 10 meses mais interessada em ver se o Horatio do CSI Miami vai (finalmente) tirar os óculos de sol do que em se deixar embalar e dormir...  É esta a minha sina...  Um filho que, com tantas qualidades (*disfarça que eu assobio) que podia herdar da mãe, foi logo buscar-lhe o lado notívago.  Bem sei que 21h27 (os números insistem em mudar no mostrador) não é muito problemático...  Mas também sei que, muitas vezes, já passa da meia-noite e meia quando consigo (Aleluia!) adormecê-lo.  Há, no entanto, que elogiar o lado bom...  O pipoca adormece e dorme a noite toda de seguida (salvo as raras excepções em que os malditos dentinhos a romper ou um estômago excepcionalmente vazio o fazem chorar e gritar até se encontrar na segurança do colo da Mãe).  Mas, mesmo assim, gostava que adormecesse às horas normais das outras crianças de 10 meses...  tipo, há 31 minutos atrás...

Já descobri o que preciso...  Preciso que alguém tire o Vitinho da reforma!  No meu tempo (ainda me custa a crer que cheguei a um ponto da minha vida em que tenho de fazer esta distinção), viamos o Vitinho a flutuar agarrado à fronha da almofada, com o rabete no ar, e sabíamos, automaticamente, que estava na hora do xixi-cama!  Podiamos fazer ronha por um bocado, mas raramente nos era permitido mais que 5 ou 10 minutos do jogo "empatar-os-pais-para-dormir-o-mais-tarde-possível!.  O problema é que o Vitinho já não vem dizer às criancinhas que está na hora de ir para a cama...  Desenhos animados para eles, que têm canais com os ditos, 24h por dia, sete dias por semana, à distância de um clique, é do mais banal que há...  Assim sendo, pergunto eu...  Como adormecer o meu crianço???

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

God Save the Queen...

Há cerca de 4 ou 5 anos estive para ir viver para Inglaterra.  Sempre fui apaixonada pela cultura e história inglesa e fui sempre uma acérrima defensora do seu povo.  Onde outros vêm arrogância eu vejo a típica introspecção dos povos das ilhas.  Mesmo os nossos açoreanos e madeirenses são mais fechados, por motivos única e exclusivamente geográficos.

Mas, se na altura fiquei triste e até, há que admiti-lo, algo desapontada com o namorido por não ter querido embarcar nessa aventura comigo, agora...

Os saques e a destruição gratuita da qual a nação inglesa foi alvo é, verdadeiramente, assustadora!  E, à minha roda, vejo cada vez mais pessoas a acreditar que o que faz falta a Portugal é uma acção semelhante...  O que é, para mim, incompreensível!  Como é possível que a resposta para o estado do País seja destruí-lo ainda mais?  Como é possível achar que destruir o ganha-pão de portugueses a passar pela crise seja a solução?  É como quando a Moody's nos acusou de ser lixo...  Se, por um lado, gostei de ver os portugueses unirem-se na revolta patriótica, por outro irritou-me a quantidade de pessoas para as quais a resposta foi "moody's vai levar no c***" e outras saídas de identico valor...  É assim que queremos que nos vejam?  Como um País desunido que, quando finalmente se une numa causa, recorre à ofensa fácil e gratuita?

Mais uma vez tenho de louvar os britânicos...  Aos poucos vão limpando a "sujidade social" que conspurcou a sua vida...  Não só o público em geral está a auxiliar a polícia na detenção dos infratores como estes estão a ser punidos imediatamente.  Tal é o exemplo de um jovem, cuja família vivia num bairro social.  Assim que foi determinado o envolvimento dele nos saques, a mão da justiça não se fez esperar...  A família viu-se despejada da casa camarária em que habitava!  Terá sido um castigo duro, para uma família inteira pela insensatez de um adolescente?  Talvez...  Mas a permissividade nunca foi solução!

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Prece

Oração de uma Agnóstica

Meu Deus, sou eu… Ainda te lembras de mim? Há muito que não te procuro e, talvez por isso, há muito que não te encontro. Tenho uma vaga lembrança de termos conversas monocórdicas… mas até dessas me esqueci… Já soube rezar… mas não me lembro da ordem das palavras… Assim, fiz-te esta oração… Para o caso de me estares a ouvir… De ainda te lembrares de quando éramos próximos… Para dar graças… Neste caso a Ti, pois não sei a quem mais as posso dar.

Obrigada pela maior das dádivas… Agora sei o que é esse Amor infinito de que tanta gente me falava ao falar-me de Ti. Obrigada pela dádiva da sabedoria, que me permite, finalmente, por as coisas em perspectiva consoante o seu real valor. Obrigada pela dádiva da infantilidade, que ainda me permite ter prazer em rebolar pelo chão. Obrigada pela dádiva da ignorância, que me deixa dormir descansada sem pensar nos perigos do amanhã. Obrigada pela dádiva da saúde, minha e dele, que nos permite desfrutar totalmente a existência um do outro. Obrigada pela dádiva do egoísmo, que me dá o direito de me orgulhar da sua (ainda) preferência pelo meu colo. Obrigada pela dádiva da partilha, que me força a falar dele a toda e qualquer pessoa que olhe para mim no decurso do seu dia. Obrigada pela dádiva do sono, que me dá a desculpa perfeita para sestas a dois, muito agarradinhos. Obrigada pela dádiva do humor, que faz com que me ria de cada vez que me arranha os olhos. Obrigada pela dádiva da estupidez, que me deixa convicta de que bebé mais lindo nunca existiu, nem existirá, neste (ou noutros) mundo(s). Obrigada pela dádiva da vergonha, que me impede de gritá-lo aos quatro ventos. Obrigada pela dádiva do emprego, que me deixa dormir descansada à noite sabendo que nada lhe faltará. Obrigada pela dádiva do sonho, que me permite imaginar um dia em que não precisarei de um emprego. Obrigada, acima de tudo, pela dádiva de ser mulher… nenhum homem, nem mesmo Tu, poderá entender do que estou a falar.

(já agora, oh Pai, como pudeste abandonar o teu filho à sua sorte quando ele mais precisava de Ti?)

domingo, 7 de agosto de 2011

Como explicar a um bebé de 9 meses que para "saborear" uma história não tem de comer o livro?

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Feliz Natal... em Agosto!





Hoje descobri mais uma benesse da maternidade:  faz-nos dar uso àqueles presentes horríveis que todos recebemos no Natal, de alguma tia distante ou de uma vizinha com pouca imaginação.

Hoje, única folga da semana...  :(

Por mais que a queira dedicar na totalidade ao pipoquinha, a verdade é que a casa precisa de alguns cuidados...  (sacana, todos os dias, ao sair, lhe digo "vá lá...  arruma-te!" e todas as noites regresso à mesma confusão). 

Fui arrumar a casa de banho e estava na altura de trocar os sabonetes das saboneteiras (não detestam quando começam a ter de se lavar com algo com a espessura de uma cartolina e que já nem faz espuma só porque "parece mal deitar fora"?  A partir de uma certa largura os meus sabonetes têm de se reformar e dar lugar a uma geração mais nova...  como tudo na vida).  Bem...  Apercebi-me que, com o pipoca, os stresses do trabalho, as trocas de horário e de folgas, as campanhas a começar, etc etc etc, esqueci-me de renovar o stock de sabonetes cá de casa... 

Resultado: finalmente dei uso a uma colecção de sabonetes recebido há uns natais.  Agora tenho, nas saboneteiras, uma laranja-sabonete, um limão-sabonete e uma lima-sabonete.

Ok...  Não será um motivo de orgulho...  Mas já posso dizer, com convicção, "Obrigada pelo presente!  Era mesmo o que queria/precisava!"

domingo, 31 de julho de 2011

9 meses...

Faz hoje 9 meses que renasci, qual Fénix expurgada pelas chamas.  Foi-se a Raquel-Filha, nasceu a Raquel-Mãe.
E, nestes 9 meses, aprendi muita coisa…  Coisas que nunca cheguei a aprender em 31 anos de vida, mas para as quais bastaram 9 meses para se tornarem verdades incontornáveis.

- Aprendi que, ao contrário do que toda a razão nos diz, limpar o cocó a outra pessoa pode não ser assim tão mau.
- Aprendi que, apesar de ser uma alma noctívaga, consigo acordar, bem cedo, com um sorriso nos lábios, dependendo de quem me acordar.
- Descobri que há beleza no som que o vento faz ao passar nas folhas das árvores.
- Aprendi que um olhar pode falar muito mais alto que palavras ou gestos.
- Descobri que o coração consegue abrigar um Amor imensurável.
- Apercebi-me que os stresses e os problemas quotidianos que me toldavam os pensamentos até poisar a cabeça na almofada, à noite, afinal têm um prazo muito limitado…  15 minutos, para ser exacta…  o tempo que me leva a chegar ao meu tesouro.
- Descobri que consigo passar os dias com conversas escatológicas, debatendo, pormenorizadamente, cores e texturas de cocós com uma seriedade escolástica.
- Aprendi que ser cuspida, mordida, arranhada, mijada em cima, ter os cabelos puxados vigorosamente, arrancarem-me os óculos e socarem-me os olhos ou, pura e simplesmente, tentarem enfiar-me os dedos nos olhos, são, na verdade, actos de um amor incondicional.
- Descobri que tenho de provar todos os medicamentos, papas, iogurtes, sopas, frutas, etc, antes de os dar a outro e que tenho a capacidade, mesmo quando me arrepiam, de os tratar como se fossem as melhores iguarias do mundo.
- Recordei que “A Joana come a papa”, que “O Manel tem uma bola”, que “era uma vez um cavalo, que vivia num lindo carrossel”, etc
- Descobri que, por muito que tente, vou deixar de ter a última palavra…
- Apercebi-me que, durante os próximos tempos, todas as minhas t-shirts, camisas, tops, robes, pijamas, vão ter, algures na zona do ombro esquerdo, uma mancha de baba, bolsado, leite, papa, sopa, fruta, ou uma mistura de todas.
- Ainda a propósito de “moda”, apercebi-me, também, que tão cedo não vou dar uso às dezenas de colares, fios, gargantilhas, brincos, anéis e pulseiras que adquiri ao longo dos supracitados 31 anos.
- Descobri que, apesar de achar que não era assim tão cabeluda, quando comecei a ver o cabelo a cair às mãos cheias apercebi-me que o cabelo era mais do que o que julgava, mas estava a fugir em catadupas.
- Aprendi que as dores de dentes pode doer-me mais a mim que a quem as tem.
- Descobri a felicidade de crescer 5 centímetros em um mês.
- Aprendi que, na verdade, gosto de ser a pessoa mais importante na vida de outra pessoa.
- Descobri que a felicidade é algo que brota de dentro de mim, independentemente da quantidade de coisas com que me rodeio ou que não posso adquirir.


sábado, 30 de julho de 2011

Pressa em chegar...

Sou mãe de um prematuro!  Esta afirmação distingue-me das mamãs de bebés de termo, de uma maneira que só as mamãs de outros prematuros poderão entender...  A maior parte das pessoas dizem que se não soubessem que o pipoca é permaturo não desconfiariam de tal...  Mas a sua pressa em chegar marcou estes primeiros meses (e os próximos) deste meu novo papel: o de Mãe.

Desde o nascimento antecipado do meu tesouro que tento sempre manter um sorriso na cara e o riso na voz, mas… muitas vezes tinha o coração a sangrar e a alma a chorar.

O facto do Alex ter vindo 7 semanas antes do previsto e de, por isso, só o ter visto quase 24h depois de ter nascido foi o início de uma batalha solitária. Quando vi o meu filho, pequeno e frágil, numa incubadora, sem sequer lhe poder pegar (enfiava a mão na janelinha e afagava-lhe o cabelinho ralo e loiro) quebrou-me muito. De noite ia para a enfermaria e via as mães em meu redor com os seus pequenitos no colo ou deitados a seu lado e o coração apertava-se pensando no baby que, no piso de baixo, aguardava os mimos e carinhos da mãe. Passei grande parte desse tempo com as cortinas da cama corridas, ou fingindo-me entregue à leitura de um livro do qual, julgo, não li uma única linha. De manhã acordava, tomava o duche o mais rápido que conseguia, fingia comer o pequeno-almoço, ia ao ritual de tirar leite e de seguida, o mais rápido que o decoro me permitia, dirigia-me ao
ambiente esterilizado da Neo. Enquanto vestia o avental obrigatório e desinfectava as mãos e os braços, esticava o pescoço e tentava, num vislumbre, saber como estava o meu pequeno. Por vezes encontrava-o entregue ao colo de uma enfermeira e a alegria de o poder ver misturava-se com um ciúme que doía… era no meu colo que ele devia ser embalado… Os meus braços é que deviam rodeá-lo e protegê-lo… Corria para ele e pegava-lhe, quase febrilmente, roubando-o à enfermeira que lhe velara o sono. Assim passava os meus dias… Sozinha… No meio de pessoas desconhecidas, de máquinas que apitavam amiúde, de correrias para esta ou aquela cama ou incubadora em que o sinal de alarme tocava.
Nas horas das refeições ligavam para a Neo à minha procura e as enfermeiras expulsavam-me, meigamente, obrigando-me a comer. A comida escorregava sem ser saboreada. A vistoria dos médicos era mais uma privação. Tinha de aguardar, ansiosa, a chegada do médico e o seu exame, quando isso significava tempo precioso que era desperdiçado. O dia da minha alta foi dos dias mais dolorosos da minha vida, comparável, apenas, à dor de perder algumas pessoas na minha vida. A caminho de casa parei para comprar uma bomba de tirar leite e, tendo-me separado do Sérgio, percorri corredores a chorar profundamente, consciente dos olhares que me lançavam os outros clientes mas sem ser capaz de me impedir. Em casa, nova rotina… Acordava (quando conseguia dormir) de 3 em 3 horas e, agarrando no telemóvel, ia para a sala tirar leite olhando para uma foto do meu menino todo entubado enquanto cheirava o babygrow ou body que ele usara nesse dia. Os médicos diziam que a ajuda visual e o cheiro eram fundamentais para aumentar a produção do leite, e eu agarrava-me às lembranças do meu tesouro, a cerca de 35 km de casa. De manhã o Sérgio levava-me ao hospital e vinha-se embora e eu ficava sozinha, até cerca das 22h, a velar o meu tesouro. Um dia cheguei e vi-o debaixo de uma luz azul, com uns óculos protectores, todo nu, só de fralda… A sua fragilidade atingiu-me em cheio e fui tirar leite para não me verem chorar.
Coisa que não consegui quando me avisaram que iam transferir o Alexandre para o hospital de Cascais. Chorei… Não queria correr riscos e a pequenez do Alex parecia-me demasiado frágil para uma mudança dessas. E, ainda para mais, estava sozinha com ele… Ninguém me acompanhou nesse dia quando, na parte de trás de uma ambulância, segurava o ovo que era demasiado grande para o pipoca, enquanto a enfermeira que me acompanhava (para controlar as máquinas a que o pipoquinha ia ligado e ver se não atingiam níveis preocupantes) discutia com a paramédica quais os melhores hospitais da região e falavam de acidentes e de pessoas que morriam na parte de trás das ambulâncias a caminho dos hospitais. Só queria gritar: “Calem-se! Não é uma pessoa qualquer que aqui vai! É o MEU filho!”, mas sabia bem que, para elas, ele era “uma pessoa qualquer”.

Novo hospital, as mesmas rotinas…

Acordar de 3 em 3 horas, cheirar a roupa e ver o telemóvel, ir para o hospital dar peito, almoçar, dar peito, canguru (ou banho), maminha, jantar sozinha ou com outras mães com os filhos internados (altura em que a refeição era acompanhada com relatos de sintomas, exames, arritmias, etc), maminha e casa. Apesar de tentar dar peito sempre que era hora da refeição, a maior parte das vezes, para o alimentar, acabava a segurar uma seringa cheia de leite donde saia um tubo que, enfiado no nariz ou na boca do Alexandre, levava o leite directamente ao estômago. Entretanto, nova privação… Dizem-me que temos de ir a outro hospital com o pipoca, fazer uma eco-cardíaca e um electrocardiograma… O motivo?
Suspeitavam de um sopro cardíaco.
Na noite antes não dormi nada e acabei com o stock de lenços de papel. No final, suspiro de alívio… Estava tudo bem!

Durante 23 dias não soube o que era pegar no meu filho sem um avental de plástico entre nós dois… Não soube o que era deitar-me com ele ao meu lado e sentir-lhe o calor… Não soube o que era tocar-lhe sem desinfectar as mãos e os braços com um líquido que nos seca a pele… Não soube o que era passar uma noite a velá-lo…

Culpei-me tanto! Ainda o faço… Digo a mim própria que se não tivesse continuado a acartar com pilhas de livros, mesmo sabendo estar grávida, nada disto teria acontecido. Que se não tivesse ido tirar as fotos para o catálogo de Natal, as águas não tinham rompido. Se… Se… Se… Se…

Ao grupo de mães da Net a que pertencia, levava novidades da felicidade de ser mãe e, muitas vezes, escrevia sobre o Amor e a Alegria enquanto chorava a dor que sentia. Da porta para fora sorriso na cara e promessa de futuro, dentro de casa as lágrimas corriam e a alma era negra. Nem o Sérgio se apercebia do que eu sentia… Eu passava os dias sozinha porque ele vinha para casa e deixava-me no hospital. Ele nunca falou de receios, cansaços, temores, e eu sentia-me tola em partilhar os meus (pior… tinha receio que, ao colocar em voz alta todas as questões que me atormentavam, o pior pudesse acontecer).

As mamãs de Dezembro pediam fotos do Alexandre. Desculpava-me com o facto de não se poder tirar fotos com flash na Neo, o que era verdade… Mas tirei-lhe dezenas com o telemóvel e a máquina sem flash… Mas não me atrevia a partilhá-las… Nem com a família… Era como se temesse que, ao partilhar a fragilidade e vulnerabilidade do meu filho o exposesse a tudo o que tentava protegê-lo… Não queria que a mais pequena coisa interferisse na sua luta.

Ainda agora, com isto tudo escrito, sei que ninguém (que não tenha passado pelo mesmo) me vai entender…
Não vai perceber a dor, a incerteza, o receio, a culpa,… Assim como não percebiam o porquê de eu passar as noites dos primeiros 4 meses do Alexandre em casa acordada. Em parte era, como eu dizia, para que não passasse a hora da mamada (vital para a evolução dum prematuro) mas, mais que isso, era a necessidade de comprovar que o seu sono era descansado, que dormia bem, que nada de mal acontecia, que não precisava de máquinas a apitar para dar conta de algo mau a passar… Só conseguia dormir, de manhã ou de tarde, quando o Sérgio já não estava em casa, abraçada a ele, certa de que o mais pequeno movimento ou suspiro me acordariam.

Ainda hoje tenho dificuldade em dormir a noite toda…

quarta-feira, 20 de julho de 2011

abraços e sonhos...

Abres os braços e lanças-te sobre mim num abraço frenético. De tão pequeno que és, os teus bracinhos não conseguem, sequer, envolver-me o pescoço num aperto. Repousas, encostado a mim, qual Cristo-Rei de braços abertos num convite irrecusável. Em êxtase olho para ti, para ver na tua alegria o reflexo da minha felicidade. Nunca me senti tão confortada num abraço. Gostaria de acreditar num dEUS ao qual pudesse agradecer a dádiva que tu és. Encostas-te ao meu ombro, sobre o qual repousas a cabeça, e falas para mim naquela língua mágica que só tu e as fadas conhecem. Sorrio e fecho os olhos… Nunca me disseram que a felicidade era assim tão simples! Conforme te sinto a adormecer, a tua vulnerabilidade assusta-me. Conheço mais do mundo do que tu, ainda que o teu seja mais belo. Receio que o meu mundo polua e asfixie o teu. Só tenho uma certeza: foste feito para amar e sorrir!

sábado, 9 de julho de 2011

Facebook

Porque motivo as pessoas, no Facebook, enviam indiscriminadamente convites de amizade?  A pessoas que não vêem e com quem não falam há mais de uma década...  A pessoas que nunca viram e a quem nunca falaram...  A pessoas de quem nunca gostaram... 

Será assim tão importante passar dos 367 para os 368 amigos?

E, se temos assim tantos amigos "facebookianos", porque raio são sempre a mesma meia dúzia a telefonar-nos?

quinta-feira, 30 de junho de 2011

filho 1.2

No fim-de-semana passado o meu pipoca foi apresentado, pela primeira vez, à praia!

Apesar de vivermos num vale entre duas praias na zona de Sintra, fizemos a estreia na praia do Baleal, em Peniche.

Grande Sucesso!!!

A areia passou com 20 valores ao teste do baby...  O mar chumbou, com um 8,5...

A excitação foi mais que muita e, nessa noite, adormecer o pequenote de quase 8 meses foi um castigo...  para a mãe, que à 1h da manhã ainda andava de um lado para o outro a embalá-lo ao som do "Olha a bola Manel" do José Barata Moura.

No dia seguinte, o êxtase:  ao fim de 4 crises de dentes (que o afligiam desde os 4 meses e meio) eis que as orelhinhas do primeiro romperam (finalmente) a gengiva!!!

Estupidamente, vieram-me as lágrimas aos olhos...

O tempo está a passar demasiadamente depressa e eu estou, assustadoramente, saudosista de ter um barrigão...

As noites continuam a ser bem dormidas e as papas, a sopa, a fruta e os iogurtes continuam a desaparecer à velocidade normal...

O meu filho já morde!!!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Cada um com as suas pragas...

As Dez Pragas do Egipto
(in Almanaque Sábado 2011)

1 - O Rio Nilo e toda a água do Egipto transformam-se em sangue.
2 - O Rio Nilo regurgita rãs, que invadem as residências dos egípcios.
3 - O pó da terra transforma-se em mosquitos.
4 - Moscas venenosas.
5 - A peste aniquila todo o gado egípcio.
6 - Uma epidemia de úlceras e tumores, espalhada a partir de cinza de forno que Moisés lança ao ar.
7 - O granizo destrói toda a verdura dos campos e arruina as colheitas.
8 - Uma praga de gafanhotos arrasa o que tinha escapado ao granizo.
9 - Densas trevas cobrem o Egipto durante três dias.
10 - Páscoa judaica: Deus mata o filho primogénito de todos os egípcios.


Os Dez Clientes Praga de um Livreiro
(quando são dados exemplos foram vividos na primeira pessoa)

1 - O que não sabe bem o que quer. ("Desculpe, estou à procura de um livro...  Não sei o título nem o autor, mas a capa é azul e custa 19,90€").
2 - O que julga que temos a obrigação de ver os mesmos programas de televisão e tomar nota dos títulos que lhe interessam (e que pedem o "livro do Professor Marcelo", o "livro da Oprah" ou "Olhe, eu queria um livro de que estavam agora a falar na Antena 1.  Sabe qual é?  Vinha a ouvir o programa à vinda para cá!")
3 - O que começa a falar sem, sequer, nos cumprimentar e que, em resposta aos nossos "bons dias", se chateia por achar (correctamente) que estamos, subtilmente, a chamá-lo de mal-educado.
4 - O que, ao não encontrar o que pretende, se vira contra quem o está a tentar ajudar ("Desse autor, com esse título não temos nada, mas eu mostro-lhe onde estão os livros dele." "Você não percebe nada disto!  Vá mas é dar uma volta!"  "Ok!")
5 - O que, por frequentar uma livraria, se julga superior ("Quero um livro, não sei o autor mas chama-se Os Maias" "Ah, sim...  E quer dos Livros do Brasil?"  "Duh!  O autor é português!")
6 - Os que assumem automaticamente que toda e qualquer pessoa a trabalhar numa grande superfície comercial só lá está para ganhar uns cobres para a noite.
7 - O que ateima no erro ("Desculpe mas não é isso...  Quero o "Amor em Tempo de Guerra" do Gabriel Garcia Llorca!")
8 - O que nos coloca perguntas, no mínimo, constrangedoras ("desculpe, viu "O Meu Pipi"?")
9 - O que encomenda livros caríssimos sobre temas específicos, que sabe que não vai comprar, e que os acaba por abandonar por trás de uma pilha de cds na secção da Música (como se assim não soubessemos que não os comprou)
10 - O que, por mais que nos esforcemos, não percebe a diferença entre "esgotado" e "não disponível" ("Desculpe, mas esse livro já está esgotado" "Ah, então pode encomendar" "Não...  Está esgotado...  A editora já não faz mais!" - por norma este cliente solta uma de duas exclamações quando finalmente "cai a ficha": 1 - "Um livro tão bom!  Realmente"  Só publicam porcarias!"  2 - "A ver se a menina diz à editora para voltar a fazê-lo"...  Sim...  Eu sou unha com carne com o Assírio e o Alvim  :P)


Bem sei que, quando comparadas, as minhas pragas parecem uma ninharia...  Mas as pragas do Egipto já foram há tanto tempo...  E o Egipto é tãããããão longe!

terça-feira, 7 de junho de 2011

Como é que é possível que 41,1% dos portugueses achou não ser necessário ir às urnas?

Há quase 40 anos rebelámo-nos para termos direito à liberdade e à democracia e, agora, as duas tornaram-se anedota nacional...

Muito triste e desapontada!

domingo, 22 de maio de 2011

O Bicho Papão

Antes de mais quero reafirmar que sei perfeitamente o período negro que o nosso país está a atravessar.  Não sou cega nem surda aos problemas sociais e económicos que marcam o dia a dia português.  No entanto, e desde que recomecei a trabalhar, apercebi-me, também, de como este estado das coisas serve de desculpa a muita coisa...  Os que não têm emprego são assombrados com as fracas perspectivas de virem a arranjar um...  Os que o têm são ameaçados com a precariedade do mesmo ou, no caso de, afortunadamente, se encontrarem efectivos, com a possibilidade do térmito do posto de trabalho.
Sou sincera...  Não percebo de que forma estas atitudes, supostamente, alimentarão e fomentarão o bom desempenho nos trabalhadores.  De que forma o receio e o temor são alimentos à excelência...  Para mim não faz sentido!  Se a ideia é fazer com que quem tem a sorte de estar empregado se dê conta da sua benção, atrevo-me a dizer que, vivendo em Portugal, lendo os jornais e vendo os noticiários, essa pessoa já sabe a sorte que tem...  ainda que, da mesma maneira que os outros, tenha de contar os tostões até ao fim do mês, fazendo a ginástica do "estica o pilim", e corra o risco de ter de abdicar do carro e/ou da casa.  Será necessário carregar-lhe ainda mais os ombros com o peso da incerteza do amanhã?
É que, talvez seja defeito pessoal, na minha perspectiva a única certeza é que não as há!  Independentemente de crises, PREC's, FMI's, bancarrota nacional, empréstimos internacionais, etc etc etc
Os meus pais, efectivos à mais de 15 anos na mesma empresa, viram-se na negra situação de ficar os dois desempregados quando esta faliu, sem direito a indemnização e com uma filha pequena de 5 anos para cuidar...  Talvez por isso, para mim, efectividade nunca foi sinónimo de segurança! 

Agora...  O que eu dispenso é que me queiram alimentar o engenho e a produtividade com ameaças veladas...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Ligação directa com o mercado de trabalho flexível!

Voltei ontem, dia 16, ao trabalho.  E, como a livraria em que trabalho está em inventário, em vez da isenção de horário para amamentação (menos 2 horas por dia) esperava por mim 8h (8 ontem e mais 8 hoje).  Pela primeira vez desde que fui mãe deixei o meu bebecas mais do que 2 ou 3 horas sem a mãe…  estivemos separados das 9h20 às 19h15…  Sou sincera:  não sei como teria aguentado sem o telemóvel repleto de fotos dele e sem a minha mãe me enviar mms com o sorriso aberto com que ele me brindava todos os dias.  E atenção…  eu sou uma sortuda!  Não só por estar empregada e efectiva, mas também porque o meu filhote vai ficar com os meus pais até aos 3 aninhos!  Mas…  Não é bem a mesma coisa, pois não?
Sim, posso considerar-me afortunada por ter um emprego, por estar efectiva e por receber sempre a horas!  Sim, o meu filho vai ser bem cuidado pelos avós, mimado até mais não, vai ter toda a atenção focada nele e vai, sem sombra de dúvidas, ser feliz!...  Mas a mamã dele é que não está tão feliz assim…
Como já disse na anterior acção pela flexibilização no trabalho, eu sempre disse à boca cheia que, se um dia viesse a ser mãe, queria ser mãe trabalhadora…  A ideia de ser “dona-de-casa” parecia-me retrógrada e limitativa.  E, nesse ponto, continuo a pensar o mesmo…  Mas agora, e depois de passar os meses mais felizes da minha vida 24 horas por dia dedicada e rendida aos sorrisos de um pequeno ser, a ideia de ter de me ausentar do pé dele e, possivelmente perder alguns dos marcos mais importantes do seu crescimento faz-me ver que também há limitações no que diz respeito ao mundo do trabalho.  Ontem, por exemplo, depois de dar a mamada das 9h ao Alexandre, só o voltei a ver já passava das 19h…  Ora, e como a mudança de rotina não se aplicou só a mim, mas a ele também, o Alexandre esteve com a espertina todo o dia…  Resultado, desde que cheguei a casa praticamente só vi o meu filhote de olhos fechados.  Para muitos pais, para quem o tempo dedicado aos filhos é uma obrigação e o prazer que disso advém um mistério, a situação poderia ser satisfatória…  Para mim não foi!
Quero ser uma mãe presente na vida do mau filhote.  Quero estar lá nas horas dos sorrisos e nas birras…  quero vê-lo a descobrir este grande mundo que o rodeia e, ao fazê-lo, redescobri-lo, eu própria, pelos olhos inocentes do meu filho.  Quero curar-lhe as feridas com um beijinho, pois todos sabem que não há melhor analgésico que um beijo de mãe.  Quero ajudá-lo a conquistar as suas batalhas.  Mas, para isso, o ideal seria um horário de trabalho flexível!
No meu caso, que trabalho numa livraria, não posso pedir para fazer parte do trabalho em casa (a não ser a gestão de conteúdos – textos críticos e sinopses das obras – mas isso já eu fazia em casa, antes de engravidar, e para além das 8 horas diárias).  O que posso pedir é uma carga horária mais pequena.  No meu caso, 5 horas diárias seriam o ideal.  Teria tempo para me dedicar a rebolar na areia com o Alexandre ao fim do dia e, ao mesmo tempo, tenho a certeza que a minha produtividade não diminuiria.  Isto porque, uma mãe estar afastada do seu tesouro mais não faz que, com a insatisfação, a tristeza e a ânsia de regressar para junto dele, essa mulher não se consiga entregar a 100% à tarefa que tem em mãos.  Ou porque conta os minutos que ainda faltam; ou porque se questiona se ele estará bem, se comeu tudo, se fez birra, se a tosse que tinha de manhã piorou, se não se esquecerão de lhe colocar o chapéu se vier à rua, etc etc etc
Eu, que tenho o pipoca com os meus pais, tenho a certeza que ele não poderia estar mais bem tratado.  Sei que, de certeza, sinto mais eu a falta dele que ele a minha…  Mas se sou eu que tenho de dar o meu contributo à classe trabalhadora do meu país, não deveria ser com a minha realização que o meu país se deveria preocupar? 
Hoje em dia a palavra chave é “CRISE”.  E com ela vêm a reboque as suas primas mais pequenas, mas cujos estragos são certeiros: precariedade, insatisfação, desalento, desemprego, dívida, …  As pessoas que têm a sorte de estar empregadas sentem-se quase na obrigação de a tudo se sujeitarem para não engrossarem as filas do IEFP local.  Mas a flexibilização, ao contrário do que podem alegar as altas esferas, não é uma desculpa para andar “na balda”.  É, isso sim, uma excelente maneira de optimizar as qualidades e as forças de uma trabalhadora sem se ter de levar, na linguagem da “bisca” e da “sueca”, com a palha que mais não faz que encher sem de nada servir.
O meu ideal, na minha situação actual, era um horário reduzido que me permitisse estar presente na vida do meu filho mais que um par de horas por dia. 
O meu ideal, sem ter de me colocar limites, era, finalmente, conseguir trabalhar em Tradução (o meu curso), em formato freelancer para poder gerir o meu tempo da melhor maneira possível (até porque sei que sou mais produtiva à noite mas, não sei porquê, as livrarias estão abertas de dia).

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Imaginação: Ida à Terra...

A paisagem que passava por eles do lado de fora da janela, modificava-se enquanto a manhã ia chegando.  Iam os quatro, janelas fechadas para impedir a entrada do frio e da humidade da madrugada.  O rádio ia vomitando músicas em incessante desfile, em que o gosto de um se sobrepunha, à vez, aos dos outros três.  Os pais, à frente, respiravam longos fôlegos de felicidade instantânea…  afinal, iam à terra!  No banco de trás o rapaz e a rapariga, a quem lhes foram retiradas as consolas portáteis de que as suas mãos pareciam depender (“mas mããããeee!” “já disse que não!  Não morrem por não jogarem 3 dias!”) mostravam a sua indignação com um silêncio ensurdecedor.
Duas vezes por ano acontecia este desfile; Natal e Páscoa!  Ainda tinham tentado inserir na tradição as férias de verão, mas as praias do Algarve eram muito mais sedutoras que as planícies do Alto Alentejo.  E então, quer fosse com a promessa das azevias de grão, quer atraídos pelo ensopado de borrego, duas vezes por ano voltavam às raízes.  Os pais tentando, num esforço que era palpável, afirmar que a vida na cidade não lhes apagara os traços campestres.  Os filhos fingindo que isso lhes interessava.
Durante 2 semanas fingiam que eram uma família unida, daquelas que planejam e fazem tudo em conjunto…  Mas aquele apartamento num 5º andar em Queluz sabia bem o que os sorrisos escondiam…  Cada qual no seu quarto, tentando ao máximo ter o mínimo de contacto com os outros…  bendizendo a sorte que lhes permitia ter um quarto para cada um (excepto no caso dos pais…  se não contarmos com as variadas noites em que um acabava por adormecer no sofá, frente ao televisor, enquanto fazia tempo para que o cônjuge, que já se apoderara da cama, adormecesse - de forma a evitar ter de trocar a meia dúzia de palavras da praxe sobre “como foi o teu dia?”).
Ali não!  Ali era “A Terra”!  Ali era o Berço!  Ali viviam ainda todos os sonhos de meninos que os pais se atreveram a sonhar antes de se aperceberem que a idade limita os sonhos e a realidade castra os desejos. 
Não!  Ali, duas vezes por ano, podiam ser o que um dia tinham idealizado…  Ali os filhos eram bem educados e preocupavam-se com eles…  Ali eles tinham tempo para os filhos e um para o outro…  Ali as refeições eram saboreadas à mesa, em conjunto, e não num tabuleiro de plástico da loja dos chineses poisado sobre os joelhos em frente à televisão…  Ali o tempo passava lentamente, respeitando as pequenas coisas da vida…  Ali as noites eram silenciosas, os dias serenos e parecia haver constantemente no ar um cheiro a flores e a giestas…
Ao fim do quarto dia todos ansiavam, secretamente, pelas filas do IC19, pelos apertões no metro e pelo constante ruído da cidade, pautado pela sempre presente sirene da polícia/bombeiros/ambulância…  Mas escondiam envergonhadamente os pensamentos, enchiam o peito daquele ar puro que os seus pulmões estranhavam, e afivelavam um sorriso nos lábios…  Afinal…  Estavam Na Terra!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Revolução por um mundo de trabalho mais flexivel !


Revolução por um mundo de trabalho mais flexivel !

A sra do pbx, vulgo “mãe que capotou”, ergueu a voz e outras vozes se juntaram à sua…  Vozes femininas, de outras mães que, mesmo sem capotarem, se encontram na mesma viagem.  Os pais, até agora, permanecem calados, olhando em descrédito e com desconfiança para a revolução que as parceiras parecem teimar em fazer.
Eu ganho aqui a minha voz, e tento dar o meu contributo…
Sempre falei à boca cheia de como, se algum dia viesse a contribuir para a população mundial, queria ser mãe-trabalhadora.  Via-me, em todo o meu profissionalismo e competência, a equilibrar carreira, educação, brincadeiras e (sim, porque não?) me time na conta certa para ser eficiente em tudo (e, tal como a criança que diz querer ser astronauta, também eu vivia na inocente convicção de ser capaz de o fazer).  Depois engravidei…  Logo aos 4 meses e meio a semente que trazia e de que ainda não conhecia o género decidiu dar-me um “abre-olhos”…  “Ai julgas-te capaz de tudo?  Toma lá umas contracções e vai para casa durante uns tempos.”  Percebi, logo aí, que os meus planos eram como os PEC tão em moda: planificações a serem colocadas de parte, sucessivamente, sem fim à vista.
E, como se isto não fosse o suficiente para abalar a minha confiança, desde o momento que nasceu (apressado, sete semanas antes do previsto), o Alexandre parece ter roubado as outras crenças que tinha como imbatíveis.  A ideia de ser uma mãe desprendida, capaz de colocar limites, de impor regras, amiga mas não “amiguinha”…  tudo isso foi pelo ar assim que me dirigiu um sorriso que era só gengivas.  Conquistou-me e faz de mim o que quer (lamento dizê-lo!).
E isso leva-me ao mote da sra do pbx.  Ainda que não queira deixar de trabalhar por ter um pavor imenso de me estupidificar e perder a (pouca) capacidade racional que ainda me resta, a verdade é que, pensar que, com o meu horário de trabalho das 11h às 20h, só verei o Alexandre acordado umas 2 ou 3 horas por dia corta-me o coração!  Ainda não voltei ao trabalho (mais 2 semanas e meia e estou lá) e já me sinto incompleta, como se me tivessem cortado um membro sem direito a anestesia.  Sei que vou perder as primeiras palavras, os primeiros passinhos, todos esses primeiros que, para uma mãe de primeira viagem como eu, se tornam únicos.
Durante estes, quase, seis meses este pequeno ser que está agora sentado ao meu lado, na sua espreguiçadeira, deitou já por terra muitas das convicções e certezas que, ao longo dos meus 31 anos, reuni.  Tornou-se a parte mais importante de mim mesma e fez, inclusive, esquecer que durante 3 décadas houve uma existência sem ele…  Uma existência sem Felicidade (com maiúscula).  E é por isso que sei que, para mim, que, também eu, anseio por um horário laboral mais flexível.  Por achar que seria mais produtiva a trabalhar (trabalhar verdadeiramente, não apenas arrastar-me) durante 5 horas diárias do que passar o degredo de 8h a olhar para o relógio, tentando amedrontar os ponteiros a fazer, passo a expressão, uma corrida contra-relógio, de forma a sair o mais rápido possível e ir ter com o meu tesouro.  Acredito, piamente, que 5 horas de entrega total seriam muito mais produtivas que 8 horas que mais não serão que uma punição…

domingo, 24 de abril de 2011

Antes de Ser Mãe...

Antes de Ser Mãe...

Antes de ser Mãe pensava que o Amor era o sentimento designado para nos sentirmos bem... protegidos.
Agora sei que o Amor é, também, assustador... pois passamos a viver em alguém que vem de nós, mas não somos nós.
Antes de ser Mãe pensava que o meu valor se media em carreira, dinheiro no banco e número de amigos.
Agora sei que o meu valor se mede em sorrisos, carícias silenciosas e olhares ansiosos.
Antes de ser Mãe o Mundo era um lugar a descobrir, um Atlas a assinalar.
Agora o Mundo é uma Aventura, um Parque de Diversões em que cada dia traz uma nova descoberta num minúsculo grão de pó.
Antes de ser Mãe o Presente era a ansiedade e o Futuro a incerteza.
Agora o Presente é a alegria e o Futuro a descoberta.
Antes de ser Mãe, ser Mulher era a feminilidade, a sedução e a (aparente) fragilidade.
Agora ser Mulher é a protecção, o aconchego e a força assumida.
Antes de ser Mãe... não sabia o que ser.
Agora sei! Sou Eu! Sou feliz! Sou MÃE!!!

Sociedade de Consumo

Que vivemos numa sociedade de consumo todos sabemos...  mas a maioria de nós não se apercebe das jogadas de interesse, e políticas, por trás do incentivo ao consumo.  Nem nos apercebemos de como somos, diariamente, "programados" para gastar, gastar, gastar...  Contra mim falo!  Sou consumista e, ainda por cima, trabalho numa grande superfície.  Mas como uma pessoa instruída e conhecedora é uma pessoa com mais poder, aqui fica um pequeno documentário sobre o processo do consumo e do seu incentivo.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ideologias: Tantos "Dantas" que para aí há!!! - Parte II


E, para quem gostou do meu último post mas não tem paciência para ler todo o Manifesto...  ou não gosta de ler (o que torna ridícula a sua presença num blog)...  ou, apenas, para quem gosta de boa declamação, aqui fica o Manifesto, na voz esse Grande Senhor da comunicação que foi Mário Viegas.

Enjoy!

Parte I


Parte II



Ideologias: Tantos "Dantas" que para aí há!!!

Durante alguns anos (mais do que o bom senso e a inteligência pediam, mas menos do que o necessário para terminar a licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas), fui diariamente recebida, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, pelos desenhos de José de Almada Negreiros.

O texto que se segue, emblemático, pungente e feroz, é “o” Texto de Almada Negreiros.  Quando, em 1915, foi publicada a revista “Orpheu”, o seu nascimento fez levantar vozes críticas que, ofendidas pelo Modernismo, Vanguarda e Novidade que esta trazia à arte em Portugal não pouparam apupos aos artistas que “ousaram” fugir aos cânones até aí permitidos.  Entre os seus críticos mais acérrimos estava Júlio Dantas, autor da peça de teatro “A Ceia dos Cardeais”.  Entre aqueles que procuravam uma nova abordagem à realidade artística estava José de Almada Negreiros.

Inteligentemente, Almada Negreiros fez da palavra uma arma, e disparou tiros certeiros contra a tradição conservadora e bolorenta de todos aqueles que não aceitaram a mudança…  aqui personificados na figura pública de Dantas!

Sei bem que já não temos revista de Orpheu, nem “Conferências do Casino” com a sua “Geração de 70”, nem mesmo, infelizmente, “A Lanterna Mágica” com o seu icónico Zé Povinho.  Mas temos, ainda, as palavras…  se ousarmos não nos calar!!!  Temos ainda a capacidade de pensar e criticar…  se o receio não nos subjugar os ideais.  Mas, para isso, temos de voltar a fazer uso em público da voz crítica, irónica e sarcástica que todos parecemos guardar para partilhar com amigos.  Neste momento, mais que uma necessidade, é um dever!  Porque, como nos grita Almada Negreiros “Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!”



Manifesto Anti-Dantas
Basta pum basta!!!
Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!
Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra! Pim!
Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!
Uma geração com um Dantas à proa é uma canoa em seco!
O Dantas é um cigano!
O Dantas é meio cigano!
O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!
O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!
O Dantas é um habilidoso!
O Dantas veste-se mal!
O Dantas usa ceroulas de malha!
O Dantas especula e inocula os concubinos!
O Dantas é Dantas!
O Dantas é Júlio!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas fez uma soror Mariana que tanto o podia ser como a soror Inês ou a Inês de Castro, ou a Leonor Teles, ou o Mestre d'Avis, ou a Dona Constança, ou a Nau Catrineta, ou a Maria Rapaz!
E o Dantas teve claque! E o Dantas teve palmas! E o Dantas agradeceu!
O Dantas é um ciganão!
Não é preciso ir pró Rossio pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!
Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever como o Dantas! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!
O Dantas é um autómato que deita pra fora o que a gente já sabe o que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!
O Dantas é um soneto dele-próprio!
O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.
O Dantas nu é horroroso!
O Dantas cheira mal da boca!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas é o escárnio da consciência!
Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!
O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa!
O Dantas é a meta da decadência mental!
E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas!
E ainda há quem lhe estenda a mão!
E quem lhe lave a roupa!
E quem tenha dó do Dantas!
E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!
Vocês não sabem quem é a soror Mariana do Dantas? Eu vou-lhes contar:
A princípio, por cartazes, entrevistas e outras preparações com as quais nada temos que ver, pensei tratar-se de soror Mariana Alcoforado a pseudo autora daquelas cartas francesas que dois ilustres senhores desta terra não descansaram enquanto não estragaram pra português, quando subiu o pano também não fui capaz de distinguir porque era noite muito escura e só depois de meio acto é que descobri que era de madrugada porque o bispo de Beja disse que tinha estado à espera do nascer do Sol!
A Mariana vem descendo uma escada estreitíssima mas não vem só, traz também o Chamilly que eu não cheguei a ver, ouvindo apenas uma voz muito conhecida aqui na Brasileira do Chiado. Pouco depois o bispo de Beja é que me disse que ele trazia calções vermelhos.
A Mariana e o Chamilly estão sozinhos em cena, e às escuras, dando a entender perfeitamente que fizeram indecências no quarto. Depois o Chamilly, completamente satisfeito, despede-se e salta pela janela com grande mágoa da freira lacrimosa. E ainda hoje os turistas têm ocasião de observar as grades arrombadas da janela do quinto andar do Convento da Conceição de Beja na Rua do Touro, por onde se diz que fugiu o célebre capitão de cavalos em Paris e dentista em Lisboa.
A Mariana que é histérica começa de chorar desatinadamente nos braços da sua confidente e excelente pau de cabeleira soror Inês.
Vêm descendo pla dita estreitíssima escada, várias Marianas, todas iguais e de candeias acesas, menos uma que usa óculos e bengala e ainda toda curvada prá frente o que quer dizer que é abadessa.
E seria até uma excelente personificação das bruxas de Goya se quando falasse não tivesse aquela voz tão fresca e maviosa da Tia Felicidade da vizinha do lado. E reparando nos dois vultos interroga espaçadamente com cadência, austeridade e imensa falta de corda... Quem está aí?... E de candeias apagadas?
- Foi o vento, dizem as pobres inocentes varadas de terror... E a abadessa que só é velha nos óculos, na bengala e em andar curvada prá frente manda tocar a sineta que é um dó d'alma o ouvi-la assim tão debilitada. Vão todas pró coro, mas eis que, de repente, batem no portão e sem se anunciar nem limpar-se da poeira, sobe a escada e entra plo salão um bispo de Beja que quando era novo fez brejeirices com a menina do chocolate.
Agora completamente emendado revela à abadessa que sabe por cartas que há homens que vão às mulheres do convento e que ainda há pouco vira um de cavalos a saltar pla janela. A abadessa diz que efectivamente já há tempos que vinha dando pela falta de galinhas e tão inocentinha, coitada, que naqueles oitenta anos ainda não teve tempo pra descobrir a razão da humanidade estar dividida em homens e mulheres. Depois de sérios embaraços do bispo é que ela deu com o atrevimento e mandou chamar as duas freiras de há pouco com as candeias apagadas. Nesta altura esta peça policial toma uma pedaço d'interesse porque o bispo ora parece um polícia de investigação disfarçado em bispo, ora um bispo com a falta de delicadeza de um polícia d'investigação, e tão perspicaz que descobre em menos de meio minuto o que o público já está farto de saber - que a Mariana dormiu com o Noel. O pior é que a Mariana foi à serra com as indiscrições do bispo e desata a berrar, a berrar como quem se estava marimbando pra tudo aquilo. Esteve mesmo muito perto de se estrear com um par de murros na coroa do bispo no que se mostrou de um atrevimento, de uma insolência e de uma decisão refilona que excedeu todas as expectativas.
Ouve-se uma corneta tocar uma marcha de clarins e Mariana sentindo nas patas dos cavalos toda a alma do seu preferido foi qual pardalito engaiolado a correr até às grades da janela gritar desalmadamente plo seu Noel. Grita, assobia e rodopia e pia e rasga-se e magoa-se e cai de costas com um acidente, do que já previamente tinha avisado o público e o pano também cai e o espectador também cai da paciência abaixo e desata numa destas pateadas tão enormes e tão monumentais que todos os jornais de Lisboa no dia seguinte foram unânimes naquele êxito teatral do Dantas.
A única consolação que os espectadores decentes tiveram foi a certeza de que aquilo não era a soror Mariana Alcoforado mas sim uma merdariana-aldantascufurado que tinha cheliques e exageros sexuais.
Continue o senhor Dantas a escrever assim que há-de ganhar muito com o Alcufurado e há-de ver que ainda apanha uma estátua de prata por um ourives do Porto, e uma exposição das maquetes pró seu monumento erecto por subscrição nacional do "Século" a favor dos feridos da guerra, e a Praça de Camões mudada em Praça Dr. Júlio Dantas, e com festas da cidade p'los aniversários, e sabonetes em conta "Júlio Dantas" e pastas Dantas p'rós dentes, e graxa Dantas p'rás botas e Niveína Dantas, e comprimidos Dantas, e autoclismos Dantas e Dantas, Dantas, Dantas, Dantas... E limonadas Dantas- Magnésia.
E fique sabendo o Dantas que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o Dantas que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões.
E fique sabendo o Dantas que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.
Mas julgais que nisto se resume literatura portuguesa? Não Mil vezes não!
Temos, além disto o Chianca que já fez rimas prá Aljubarrota que deixou de ser a derrota dos Castelhanos pra ser a derrota do Chianca.
E as pinoquices de Vasco Mendonça Alves passadas no tempo da avózinha! E as infelicidades de Ramada Curto! E o talento insólito de Urbano Rodrigues! E as gaitadas do Brun! E as traduções só pra homem do ilustríssimos excelentíssimo senhor Mello Barreto! E o frei Matta Nunes Moxo! E a Inês Sifilítica do Faustino! E as imbecelidades do Sousa Costa! E mais pedantices do Dantas! E Alberto Sousa, o Dantas do desenho! E os jornalistas do Século e da Capital e do Notícias e do Paiz e do Dia e da Nação e da República e da Lucta e de todos, todos os jornais! E os actores de todos os teatros! E todos os pintores das Belas-Artes e todos os artistas de Portugal que eu não gosto. E os da Águia do Porto e os palermas de Coimbra! E a estupidez do Oldemiro César e o Dr. José de Figueiredo Amante do Museu e ah oh os Sousa Pinto hu hi e os burros de cacilhas e os menos do Alfredo Guisado! E (o) raquítico Albino Forjaz de Sampaio, crítico da Lucta a quem Fialho com imensa piada intrujou de que tinha talento! E todos os que são políticos e artistas! E as exposições anuais das Belas-Arte(s)! E todas as maquetas do Marquês de Pombal! E as de Camões em Paris; e os Vaz, os Estrela, os Lacerda, os Lucena, os Rosa, os Costa, os Almeida, os Camacho, os Cunha, os Carneiro, os Barros, os Silva, os Gomes, os velhos, os idiotas, os arranjistas, os impotentes, os celerados, os vendidos, os imbecis, os párias, os ascetas, os Lopes, os Peixotos, os Motta, os Godinho, os Teixeira, os Câmara, os diabo que os leve, os Constantino, os Tertuliano, os Grave, os Mântua, os Bahia, os Mendonça, os Brazão, os Matos, os Alves, os Albuquerques, os Sousas e todos os Dantas que houver por aí!!!!!!!!!
E as convicções urgentes do homem Cristo Pai e as convicções catitas do homem Cristo Filho!...
E os concertos do Blanch! E as estátuas ao leme, ao Eça e ao despertar e a tudo! E tudo o que seja arte em Portugal! E tudo! Tudo por causa do Dantas!
Morra o Dantas, morra! Pim!
Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!
Morra o Dantas, morra! Pim!

José de Almada Negreiros
Poeta d'Orpheu
Futurista E Tudo
1915

terça-feira, 19 de abril de 2011

terça-feira, 12 de abril de 2011

Obesidade

Obesidade...
Uma das maiores pragas do mundo moderno...  Hoje em dia até as crianças são obesas...
Correndo o risco de parecer mais velha que aquilo que sou (ou, pelo menos, me sinto) tenho de dizer, enquanto abano a cabeça em reprovação, "no meu tempo não era nada assim!".  Claro que gostávamos de comer porcarias mas, na altura, o pior que comiamos era um bolicao, a esporádica embalagem de cheetos ou uma fatia de pão barrada com tulicreme (ainda existe???) ou nucrema.  E nem pensar em comer isso todos os dias!!!  Os pais, ao contrário desta nova geração parental, recusavam ceder às nossas lágrimas e ao bater do pé, acusador, que dirigiamos na sua direcção.  "Não!" era "Não!" e não havia discussão!
Mas, na nossa sociedade, a palavra "Não" é, cada vez mais, uma raridade.  Tenho, quanto a isso, uma teoria! 
A minha geração (e a que veio um pouco antes e, também, a que veio a seguir) não aceita ouvir um "Não!" às suas aspirações...  Não aceitam um não quanto à compra da casa, ao crédito do cartão (que se quer ilimitado), às férias no estrangeiro e à quinzena no Algarve (que, nem com o endividamento em que estão, se recusam a abdicar)...  Sentem-se no direito a tudo e não aceitam "Não!" como resposta.  E, assim, perdem o controlo e a familiaridade com a palavra...  Tornou-se estranha...  Incompreensível...  E, assim sendo, não a podem partilhar e ensinar aos filhos!
E, nessa busca incessante pelo "El Dorado" do consumismo, derretem-se perante a mais pequena imagem dos EUA...  Afinal, é essa a terra dos sonhos, não é?  Aquele lugar mágico a que os sonhadores chegam às mãos cheias, "looking for the american dream".
E, partindo, precisamente, desta permissa, deixo aqui uma lista de verdadeiras "delícias" norte-americanas, para quem quiser apostar no crescente diâmetro "barrigal".  Tudo do bom!!!  Tudo frito!!!

  1. Deep fried s’mores Pop-Tart - deep fried chocolate, peanut butter and s’mores Pop-Tart, battered and served with chocolate syrup and whipped cream. - Huuuummmm, um frito de chocolate e manteiga de amendoim...  Delícia!  O quê?  Regado com calda de chocolate e com natas?  Ainda melhor!!!
  2. Fried beer – beer filled battered and fried pretzel pocket. - Cerveja frita???  Dentro de um Pretzel?  Boa!  Já podem vir ver a bola cá a casa...  Já tenho bebida e aperitivos!
  3. Deep fried frozen maragarita – margarita flavored funnel cake served in a salt rimmed glass - Bolo frito com sabor a margaritas?  Oh pá, vocês sabem como agradar a uma mulher!!!
  4. Fried chocolate – candy bar and cherry stuffed inside a brownie, dipped in chocolate cake batter and fried. Served with cherry sauce and chocolate whipped cream. - Ok...  Agora fiquei indecisa entre este e o primeiro (é o que acontece quando somos confrontados com petiscos gourmet)
  5. Fried lemonade – lemon flavored pastry baked and fried served with lemonade glaze. - Esta é uma excelente opção para o Verão que se aproxima!  Eu, pelo menos, acho que a acidez do limão é reconfortante em dias quentes...  Frito deve ser ainda melhor!  (adeus, "Bolas de Berlim" na praia, agora só dá "Fried Lemonade")
  6. Fernie’s fried club salad – 12″ spinach wrap filled with ham, chicken, lettuce and tomatoes – deep fried and topped with croutons and served on a stick. - Ainda alguém se lembra de quando comer saladas era saudável???  Aaahhhhhhh, sweet memories.
  7. Texas fried caviar – fried black eyed peas, served with “special sauce”. - Ok...  Caviar, caviar não será...  Mas quem quer ovas de peixe podendo comer feijão frade frito?
  8. Texas fried Frito pie – traditional Texas Frito pie, battered and deep fried - Este, para que não restem dúvidas, até é bilingue...  É "fried" e é "frito"

domingo, 10 de abril de 2011

as boas ideias nunca são aproveitadas...

Fui mãe à pouco tempo...  No dia 31 de Outubro, às 5 e 57 a tarde, para ser mais precisa (tão a ver a ligação ao nome do blog?).  E faço parte de um grupo de mamãs que tiveram os filhotes em Dezembro (o meu pipoca também era para nascer no último mês do ano, a dia 17, mas estava tão ansioso para conhecer a mamã que chegou 7 semanas antes).  Ora, nesse grupo, há muitas mamãs desempregadas que ou já o tavam na altura de engravidar ou, por estarem em situações precárias ou a recibos verdes, levaram um xuto ao anunciarem as respectivas gravidezes aos patrões.  Vai daí, e depois de ter visto este vídeo, tive uma ideia brilhante...  podiamos fazer disto negócio!!! Tipo linha de montagem! Punhamos um tapete rolante com uma secadora tipo lavagem de carros à ponta e era todo o dia nisto! Até era bom para as meninas que estão desempregadas... Ficávamos empresárias por conta própria... Até planeei a maneira de sermos mais produtivas:  a 1ª molha - tapete rolante - a 2ª põe champô - tapete rolante - a 3ª tira champô - tapete rolante - a 4ª ensaboa - tapete rolante - a 5ª tira o sabão - tapete rolante - secadora industrial!!!  E qual foi a resposta???  Nem uma se apercebeu do enorme potencial desta minha ideia...  Nem uma saltou de alegria perante um plano tão bom...  Depois queixem-se da crise e do desemprego...  As boas ideias nunca são aproveitadas neste País!...

sábado, 9 de abril de 2011

Amor é...

Amor é...

Guardar o esparguete à bolonhesa, acabado de fazer, no frigorífico porque a nossa cara metade diz que está cansado, quer dormir e não tem fome...  e, de seguida, ir fazer uma caneca de papa Cérelac porque ele decide que, afinal, não quer ir para a cama de estômago vazio.

                                                   Kim Casali

Ideologias: Como isto vai...

Ontem, eu e o "namorido", sentámo-nos em frente à televisão e acompanhámos, compenetrados, o congresso do PS, na RTPn...  Admito, não é o programa mais romântico para uma sexta à noite...  Mas não é a nossa vida sentimental que nos preocupa!
Sempre me interessei por política!
Minto!  Sempre dei valor ao poder que o voto de cada um pode ter na direcção política de um País!
Principalmente, sendo mulher, sempre tive presente que, até há bem pouco tempo, as minhas antepassadas não tiveram uma voz activa nessa direcção.  Acho que isso sempre me fez pensar que não posso, por mim e por elas, desperdiçar a voz que me foi dada.  Voto sempre!  Desde os meus 18 anos!  Sejam eleições, referendos,...  Sempre que somos chamados a dar a nossa opinião de cidadãos, lá vou eu...  de caneta em punho!
E, por isso, acho uma negligência não nos tentarmos informar sobre as bases em que se assentam cada um dos partidos e chegar-se ao local de voto para se por a cruz ao lado da cara que mais nos atrai ou dar o voto ao político cuja gravata tem o tom de azul que mais fala à nossa sensibilidade artística.
Mas, cada vez mais, encontro um problema...  Antigamente, ser-se de direita ou de esquerda dizia logo muito sobre as nossas ideologias.  Hoje em dia, pelo que vejo e ouço, sinto que essa divisão partidária e ideológica está extinta.  Os discursos dos principais partidos, de um espectro ao outro, são repetitivos, semelhantes e cruzam-se independentemente da cor de quem os profere.  Não é para admirar que o povo, cada vez mais, se refugie em shoppings nos dias de voto e prefira escolher entre a Zara e a Mango que entre o rosa-PS e a laranja-PSD.
Quando sabemos que PPC, líder do maior partido da oposição (que, até ver, era um partido de direita) começou as suas lides políticas nos meandros do PCP...  Que bloquistas e laranjinhas se unem na tarefa de fazer cair a rosa murcha...  Que as cassetes que se ouvem não se modernizam e tocam, ainda, as mesmas músicas gastas cuja letra, de tão repetida, deixou de ter valor...  Que as Portas azuis só se importam em abrir em proveito próprio...  Como podemos nós, que temos de tomar decisões no meio desta confusão, conseguir fazer algum sentido deste cocktail político que somos obrigados a beber?
Ontem foi dia de congresso do PS...  E, o que mais me assustou, ao assistir às promessas, críticas, ameaças políticas e plano de oferta que Sócrates debitou durante o seu discurso foi...  que o ex-PM até faz sentido quando fala assim...  Pior...  Quando lhes dão direito de antena e tempo suficiente para nos irem lavando a alma e o cérebro...  TODOS eles fazem sentido!  É isto a Política!!!  E, quem não souber de antemão qual o seu ideal, quais as suas simpatias partidárias, qual a sua linha política...  Só tem mesmo a cor da gravata para decidir em quem votar!

terça-feira, 8 de março de 2011

Ideologias: Saúde

Sei que já passou mais de duas semanas desde que a revista saiu, mas não posso deixar de falar da entrevista de José Manuel Silva (Bastonário dos Médicos) à revista Visão (nº 936, de 10 a 16 de Fevereiro).

Começo por dizer que gostei do que li e que fiquei com uma boa impressão do homem que, sem subterfúgios, respondeu às questões colocadas.  De todas, 2 respostas ficaram a bailar-me na cabeça...  uma pela positiva, outra nem tanto.

À questão "Como deve, então, ser financiado o SNS?", José Manuel Silva responde:
"O problema não está tanto no financiamento, mas na gestão, nas formas de combater o desperdício.  Quando, hoje, se põe em causa a sobrevivência do SNS, isso tem a ver com interesses privados.  O papel destes é importante como complemento, suprindo falhas do SNS, e, como alternativa, para quem tiver seguros.  Fora isso, veja-se o caso dos EUA, que são o paradigma da medicina privada.  Têm a medicina mais cara do munndo, mas surgem na classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS) muito abaixo de nós.  Além disso, o SNS é o melhor serviço público português."

Vou deixar passar a última frase sem comentário pois não foi ela que granjeou a minha concordância.  Estou, isso sim, de acordo com as afirmações sobre a privatização da Saúde e do (mau) exemplo que nos surge, nessa área, dos EUA.
Basta olharmos para a realidade americana para percebermos que, ao se privatizar os serviços básicos de saúde, estamos a contribuir para um elitismo social em que, ao contrário do que vemos agora, grande parte da população fica privada de algo que é (ou deveria ser) um direito inerente a todos.  Os jogos e compadrios de bastidores, entre governo e farmacêuticas, impedem o acesso dos extratos mais baixos a uma área que é uma necessidade e não um luxo.  Quem tem dinheiro poderá ter a possibilidade de conseguir a cura, quem não o tem vive com a doença.
Desde que vi os documentários "Sicko" de Michael Moore e "30 Days Working for the Minimum Wage" de Morgan Spurlock, fiquei ainda mais estarrecida e, devo admiti-lo, receosa pelo sistema de saúde norte-americano...  Deus me livre de adoecer em solo do Tio Sam!
O primeiro vê o autor e realizador de "Bowling for Columbine" e "Fahrenheit 9/11" a fazer um retrato político-social do serviço nacional de saúde, comparando-o, depois, a outros países como o Canadá, Cuba ou Inglaterra.  Fazendo-se acompanhar, por vezes, por um grupo de sobreviventes e voluntários do 11 de Setembro, Moore denuncia não só o mau resultado dos serviços elitistas de saúde, como demonstra que o governo Norte-Americano não tem consideração, sequer, pelos chamados "heróis nacionais" dos quais se está sempre a gabar, em campanhas de puro marketing político.  Aumentando a controvérsia, leva o grupo consigo, primeiro a Guantanamo, à famosa prisão onde, curiosamente, os tratamentos e consultas são gratuitos.  Não tendo permissão para entrar, vão "já ali ao lado", a Cuba, nação criticada pelos sucessivos governos dos EUA, por ser o "diabo vermelho" do comunismo, ali tão perto.  As portas das clinicas cubanas abrem-se ao grupo, que é finalmente visto e correctamente diagnosticado e que avia as receitas por míseros dólares, ao invés das centenas exigidas no seu país.
Analizando os serviços de saúde de outros países, Moore mostra ainda que os médicos americanos, passiveis de temer cortes salariais e/ou benesses por parte das farmacêuticas, não devem temer uma vida frugal e de dificuldades.  Muito pelo contrário, podem, isso implementar um programa em que os médicos sejam compensados pelos êxitos e não premiados pelos jogos de interesse.



Quanto ao "30 Days Working for the Minimum Wage" de Morgan Spurlock (mais conhecido pelo seu documentário "Super Size Me" no qual, durante 30 dias - se não estou em erro - fez todas as suas refeições na McDonald's - experiência que no final brindou com uma vistoria médica que lhe disse o que já todos nós sabemos...  que a fast food tem muito de fast e pouco de food) foi um verdadeiro abre-olhos para a realidade de milhões de norte-americanos que não possuem seguros de saúde.  Spurlock e a sua namorada comprometem-se a viver 30 dias com o ordenado mínimo nacional...  Ora, para quem ganha o ordenado mínimo não existe a "regalia" de ter direito a seguro de saúde e, assim sendo, que Deus (essa entidade sempre na boca dos "bem-intencionados" americanos) tenha compaixão deles e nunca os deixe adoecer...  Não foi o que aconteceu aos dois.  Tendo ficado doentes na mesma altura dirigem-se ao hospital para serem diagnosticados...  Uma infecção urinária para ela, um problema muscular para ele e...  menos cerca de 1000 USD para os 2!  Sim...  1000  (MIL) dólares só para lhes serem diagnosticadas as maleitas...  E, de receita na mão, já atolados na dívida das consultas, há que decidir qual dos dois está pior de forma a se decidir qual a receita a aviar.  É muito triste que um país gooze assim com a pobreza e a saúde dos seus cidadãos...  E a perspectiva de essa vir a ser, alguma vez, a realidade portuguesa gela-me o sangue nas veias!!!  (e EU tenho seguro de saúde!)

A segunda resposta de José Manuel Silva a merecer a minha atenção foi a dada à afirmação "Mas é indesmentível que o défice do sector cresce de ano para ano".

"É um défice absolutamente artificial, determinado pelo próprio Estado.  O valor de cada acto médico praticado nos hospitais é fixado pelo Estado.  Haver mais ou menos défice depende dos valores atribuídos.  Uma das formas de o Estado poupar, com grandes ganhos para os doentes, seria reorganizar os hospitais por patologias e não por serviços.  É, de resto, o qe propõem Michael Porter, um grande economista da Saúde.  Um diabético tem de ir a consultas a vários serviços hospitalares, devido a problemas resultantes da mesma doença.  Deveria poder solucioná-los todos no mesmo serviço, destinado à diabetes.  A aposta tem de ser na qualidade e não nos números da Saúde, quantas vezes manipulados."

Ora bem...  No papel, em teoria, a ideia apresentada pelo Bastonário seria, realmente, um ideal não só de Serviço de Saúde mas também de facilitismo para o utente português, tantas vezes em labirinticas visitas a hospitais, serviços e consultóros.  Na prática...  Não sei se este ideal utópico me parece viável!  Na verdade, convivendo com as voltas hospitalares da minha mãe há mais de vinte anos, sinto que, por exemplo no seu caso, não seria assim tão fácil a concentração de todos os serviços que tem de visitar num só hospital.  Quando eu tinha cerca de 7 anos a minha mãe adoeceu...  Algum tempo mais tarde, e após inúmeros diagnósticos errados, foi-lhe diagnosticado Lúpus.  Depois disso já teve vários problemas derivados da doença (dores articulares, deficiências renais, anemias, etc etc etc) sendo todos esses problemas seguidos pelo seu médico no Hospital Curry Cabral.  Até aqui tudo certo, e tudo em conformidade com o proposto por José Manuel Silva.  No entanto, e nos últimos anos, a minha mãe teve também de tirar um peito e foi-lhe diagnosticado diabetes (insulino-dependentes)...  É acompanhada, para estes dois problemas, em 2 outras instalações hospitalares; o Hospital onde tirou o peito e fez quimio, e a associação dos diabéticos.  A minha questão é a seguinte...  a fazer fé na ideia do Bastonário dos Médicos, e fazendo valer a sua ideia até à mais ínfima vírgula, a minha mãe deveria ser vista, para estes dois "novos" problemas, também no Curry Cabral.  Isto porque, segundo os médicos que a seguem, ambos os problemas foram derivados da sua primeira maleita: o Lúpus.  A saber; os diabetes aparecera porque a cortisona de que a minha mãe é dependente há vinte anos aumentou-lhe significativamente os níveis de açucar no sangue (os quais - valores - o seu organismo não consegue regular por si mesmo) e o peito teve de ser retirado pois, por causa do Lúpus, as anomalias que surgiram nas células da mama poderiam agravar-se rapidamente e espalhar-se a outras partes do corpo.  Bem, eu, como filha de uma paciente que tem sido bem cuidada nos serviços a que vai, atrevo-me a dizer que, para os doentes com Lúpus, não haveria hospital em que coubessem serviços que abrangessem todas as possíveis complicações a advir da doença...  Sendo esta uma doença pessoal, em que cada caso é um caso e em que não parecem haver 2 pacientes com os mesmos sintomas, tornar-se-ia impraticável ter um hospital só dedicado ao Lúpus. É uma bela ideia...  mas apenas isso...  uma ideia!