sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Prece

Oração de uma Agnóstica

Meu Deus, sou eu… Ainda te lembras de mim? Há muito que não te procuro e, talvez por isso, há muito que não te encontro. Tenho uma vaga lembrança de termos conversas monocórdicas… mas até dessas me esqueci… Já soube rezar… mas não me lembro da ordem das palavras… Assim, fiz-te esta oração… Para o caso de me estares a ouvir… De ainda te lembrares de quando éramos próximos… Para dar graças… Neste caso a Ti, pois não sei a quem mais as posso dar.

Obrigada pela maior das dádivas… Agora sei o que é esse Amor infinito de que tanta gente me falava ao falar-me de Ti. Obrigada pela dádiva da sabedoria, que me permite, finalmente, por as coisas em perspectiva consoante o seu real valor. Obrigada pela dádiva da infantilidade, que ainda me permite ter prazer em rebolar pelo chão. Obrigada pela dádiva da ignorância, que me deixa dormir descansada sem pensar nos perigos do amanhã. Obrigada pela dádiva da saúde, minha e dele, que nos permite desfrutar totalmente a existência um do outro. Obrigada pela dádiva do egoísmo, que me dá o direito de me orgulhar da sua (ainda) preferência pelo meu colo. Obrigada pela dádiva da partilha, que me força a falar dele a toda e qualquer pessoa que olhe para mim no decurso do seu dia. Obrigada pela dádiva do sono, que me dá a desculpa perfeita para sestas a dois, muito agarradinhos. Obrigada pela dádiva do humor, que faz com que me ria de cada vez que me arranha os olhos. Obrigada pela dádiva da estupidez, que me deixa convicta de que bebé mais lindo nunca existiu, nem existirá, neste (ou noutros) mundo(s). Obrigada pela dádiva da vergonha, que me impede de gritá-lo aos quatro ventos. Obrigada pela dádiva do emprego, que me deixa dormir descansada à noite sabendo que nada lhe faltará. Obrigada pela dádiva do sonho, que me permite imaginar um dia em que não precisarei de um emprego. Obrigada, acima de tudo, pela dádiva de ser mulher… nenhum homem, nem mesmo Tu, poderá entender do que estou a falar.

(já agora, oh Pai, como pudeste abandonar o teu filho à sua sorte quando ele mais precisava de Ti?)

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