domingo, 31 de julho de 2011

9 meses...

Faz hoje 9 meses que renasci, qual Fénix expurgada pelas chamas.  Foi-se a Raquel-Filha, nasceu a Raquel-Mãe.
E, nestes 9 meses, aprendi muita coisa…  Coisas que nunca cheguei a aprender em 31 anos de vida, mas para as quais bastaram 9 meses para se tornarem verdades incontornáveis.

- Aprendi que, ao contrário do que toda a razão nos diz, limpar o cocó a outra pessoa pode não ser assim tão mau.
- Aprendi que, apesar de ser uma alma noctívaga, consigo acordar, bem cedo, com um sorriso nos lábios, dependendo de quem me acordar.
- Descobri que há beleza no som que o vento faz ao passar nas folhas das árvores.
- Aprendi que um olhar pode falar muito mais alto que palavras ou gestos.
- Descobri que o coração consegue abrigar um Amor imensurável.
- Apercebi-me que os stresses e os problemas quotidianos que me toldavam os pensamentos até poisar a cabeça na almofada, à noite, afinal têm um prazo muito limitado…  15 minutos, para ser exacta…  o tempo que me leva a chegar ao meu tesouro.
- Descobri que consigo passar os dias com conversas escatológicas, debatendo, pormenorizadamente, cores e texturas de cocós com uma seriedade escolástica.
- Aprendi que ser cuspida, mordida, arranhada, mijada em cima, ter os cabelos puxados vigorosamente, arrancarem-me os óculos e socarem-me os olhos ou, pura e simplesmente, tentarem enfiar-me os dedos nos olhos, são, na verdade, actos de um amor incondicional.
- Descobri que tenho de provar todos os medicamentos, papas, iogurtes, sopas, frutas, etc, antes de os dar a outro e que tenho a capacidade, mesmo quando me arrepiam, de os tratar como se fossem as melhores iguarias do mundo.
- Recordei que “A Joana come a papa”, que “O Manel tem uma bola”, que “era uma vez um cavalo, que vivia num lindo carrossel”, etc
- Descobri que, por muito que tente, vou deixar de ter a última palavra…
- Apercebi-me que, durante os próximos tempos, todas as minhas t-shirts, camisas, tops, robes, pijamas, vão ter, algures na zona do ombro esquerdo, uma mancha de baba, bolsado, leite, papa, sopa, fruta, ou uma mistura de todas.
- Ainda a propósito de “moda”, apercebi-me, também, que tão cedo não vou dar uso às dezenas de colares, fios, gargantilhas, brincos, anéis e pulseiras que adquiri ao longo dos supracitados 31 anos.
- Descobri que, apesar de achar que não era assim tão cabeluda, quando comecei a ver o cabelo a cair às mãos cheias apercebi-me que o cabelo era mais do que o que julgava, mas estava a fugir em catadupas.
- Aprendi que as dores de dentes pode doer-me mais a mim que a quem as tem.
- Descobri a felicidade de crescer 5 centímetros em um mês.
- Aprendi que, na verdade, gosto de ser a pessoa mais importante na vida de outra pessoa.
- Descobri que a felicidade é algo que brota de dentro de mim, independentemente da quantidade de coisas com que me rodeio ou que não posso adquirir.


sábado, 30 de julho de 2011

Pressa em chegar...

Sou mãe de um prematuro!  Esta afirmação distingue-me das mamãs de bebés de termo, de uma maneira que só as mamãs de outros prematuros poderão entender...  A maior parte das pessoas dizem que se não soubessem que o pipoca é permaturo não desconfiariam de tal...  Mas a sua pressa em chegar marcou estes primeiros meses (e os próximos) deste meu novo papel: o de Mãe.

Desde o nascimento antecipado do meu tesouro que tento sempre manter um sorriso na cara e o riso na voz, mas… muitas vezes tinha o coração a sangrar e a alma a chorar.

O facto do Alex ter vindo 7 semanas antes do previsto e de, por isso, só o ter visto quase 24h depois de ter nascido foi o início de uma batalha solitária. Quando vi o meu filho, pequeno e frágil, numa incubadora, sem sequer lhe poder pegar (enfiava a mão na janelinha e afagava-lhe o cabelinho ralo e loiro) quebrou-me muito. De noite ia para a enfermaria e via as mães em meu redor com os seus pequenitos no colo ou deitados a seu lado e o coração apertava-se pensando no baby que, no piso de baixo, aguardava os mimos e carinhos da mãe. Passei grande parte desse tempo com as cortinas da cama corridas, ou fingindo-me entregue à leitura de um livro do qual, julgo, não li uma única linha. De manhã acordava, tomava o duche o mais rápido que conseguia, fingia comer o pequeno-almoço, ia ao ritual de tirar leite e de seguida, o mais rápido que o decoro me permitia, dirigia-me ao
ambiente esterilizado da Neo. Enquanto vestia o avental obrigatório e desinfectava as mãos e os braços, esticava o pescoço e tentava, num vislumbre, saber como estava o meu pequeno. Por vezes encontrava-o entregue ao colo de uma enfermeira e a alegria de o poder ver misturava-se com um ciúme que doía… era no meu colo que ele devia ser embalado… Os meus braços é que deviam rodeá-lo e protegê-lo… Corria para ele e pegava-lhe, quase febrilmente, roubando-o à enfermeira que lhe velara o sono. Assim passava os meus dias… Sozinha… No meio de pessoas desconhecidas, de máquinas que apitavam amiúde, de correrias para esta ou aquela cama ou incubadora em que o sinal de alarme tocava.
Nas horas das refeições ligavam para a Neo à minha procura e as enfermeiras expulsavam-me, meigamente, obrigando-me a comer. A comida escorregava sem ser saboreada. A vistoria dos médicos era mais uma privação. Tinha de aguardar, ansiosa, a chegada do médico e o seu exame, quando isso significava tempo precioso que era desperdiçado. O dia da minha alta foi dos dias mais dolorosos da minha vida, comparável, apenas, à dor de perder algumas pessoas na minha vida. A caminho de casa parei para comprar uma bomba de tirar leite e, tendo-me separado do Sérgio, percorri corredores a chorar profundamente, consciente dos olhares que me lançavam os outros clientes mas sem ser capaz de me impedir. Em casa, nova rotina… Acordava (quando conseguia dormir) de 3 em 3 horas e, agarrando no telemóvel, ia para a sala tirar leite olhando para uma foto do meu menino todo entubado enquanto cheirava o babygrow ou body que ele usara nesse dia. Os médicos diziam que a ajuda visual e o cheiro eram fundamentais para aumentar a produção do leite, e eu agarrava-me às lembranças do meu tesouro, a cerca de 35 km de casa. De manhã o Sérgio levava-me ao hospital e vinha-se embora e eu ficava sozinha, até cerca das 22h, a velar o meu tesouro. Um dia cheguei e vi-o debaixo de uma luz azul, com uns óculos protectores, todo nu, só de fralda… A sua fragilidade atingiu-me em cheio e fui tirar leite para não me verem chorar.
Coisa que não consegui quando me avisaram que iam transferir o Alexandre para o hospital de Cascais. Chorei… Não queria correr riscos e a pequenez do Alex parecia-me demasiado frágil para uma mudança dessas. E, ainda para mais, estava sozinha com ele… Ninguém me acompanhou nesse dia quando, na parte de trás de uma ambulância, segurava o ovo que era demasiado grande para o pipoca, enquanto a enfermeira que me acompanhava (para controlar as máquinas a que o pipoquinha ia ligado e ver se não atingiam níveis preocupantes) discutia com a paramédica quais os melhores hospitais da região e falavam de acidentes e de pessoas que morriam na parte de trás das ambulâncias a caminho dos hospitais. Só queria gritar: “Calem-se! Não é uma pessoa qualquer que aqui vai! É o MEU filho!”, mas sabia bem que, para elas, ele era “uma pessoa qualquer”.

Novo hospital, as mesmas rotinas…

Acordar de 3 em 3 horas, cheirar a roupa e ver o telemóvel, ir para o hospital dar peito, almoçar, dar peito, canguru (ou banho), maminha, jantar sozinha ou com outras mães com os filhos internados (altura em que a refeição era acompanhada com relatos de sintomas, exames, arritmias, etc), maminha e casa. Apesar de tentar dar peito sempre que era hora da refeição, a maior parte das vezes, para o alimentar, acabava a segurar uma seringa cheia de leite donde saia um tubo que, enfiado no nariz ou na boca do Alexandre, levava o leite directamente ao estômago. Entretanto, nova privação… Dizem-me que temos de ir a outro hospital com o pipoca, fazer uma eco-cardíaca e um electrocardiograma… O motivo?
Suspeitavam de um sopro cardíaco.
Na noite antes não dormi nada e acabei com o stock de lenços de papel. No final, suspiro de alívio… Estava tudo bem!

Durante 23 dias não soube o que era pegar no meu filho sem um avental de plástico entre nós dois… Não soube o que era deitar-me com ele ao meu lado e sentir-lhe o calor… Não soube o que era tocar-lhe sem desinfectar as mãos e os braços com um líquido que nos seca a pele… Não soube o que era passar uma noite a velá-lo…

Culpei-me tanto! Ainda o faço… Digo a mim própria que se não tivesse continuado a acartar com pilhas de livros, mesmo sabendo estar grávida, nada disto teria acontecido. Que se não tivesse ido tirar as fotos para o catálogo de Natal, as águas não tinham rompido. Se… Se… Se… Se…

Ao grupo de mães da Net a que pertencia, levava novidades da felicidade de ser mãe e, muitas vezes, escrevia sobre o Amor e a Alegria enquanto chorava a dor que sentia. Da porta para fora sorriso na cara e promessa de futuro, dentro de casa as lágrimas corriam e a alma era negra. Nem o Sérgio se apercebia do que eu sentia… Eu passava os dias sozinha porque ele vinha para casa e deixava-me no hospital. Ele nunca falou de receios, cansaços, temores, e eu sentia-me tola em partilhar os meus (pior… tinha receio que, ao colocar em voz alta todas as questões que me atormentavam, o pior pudesse acontecer).

As mamãs de Dezembro pediam fotos do Alexandre. Desculpava-me com o facto de não se poder tirar fotos com flash na Neo, o que era verdade… Mas tirei-lhe dezenas com o telemóvel e a máquina sem flash… Mas não me atrevia a partilhá-las… Nem com a família… Era como se temesse que, ao partilhar a fragilidade e vulnerabilidade do meu filho o exposesse a tudo o que tentava protegê-lo… Não queria que a mais pequena coisa interferisse na sua luta.

Ainda agora, com isto tudo escrito, sei que ninguém (que não tenha passado pelo mesmo) me vai entender…
Não vai perceber a dor, a incerteza, o receio, a culpa,… Assim como não percebiam o porquê de eu passar as noites dos primeiros 4 meses do Alexandre em casa acordada. Em parte era, como eu dizia, para que não passasse a hora da mamada (vital para a evolução dum prematuro) mas, mais que isso, era a necessidade de comprovar que o seu sono era descansado, que dormia bem, que nada de mal acontecia, que não precisava de máquinas a apitar para dar conta de algo mau a passar… Só conseguia dormir, de manhã ou de tarde, quando o Sérgio já não estava em casa, abraçada a ele, certa de que o mais pequeno movimento ou suspiro me acordariam.

Ainda hoje tenho dificuldade em dormir a noite toda…

quarta-feira, 20 de julho de 2011

abraços e sonhos...

Abres os braços e lanças-te sobre mim num abraço frenético. De tão pequeno que és, os teus bracinhos não conseguem, sequer, envolver-me o pescoço num aperto. Repousas, encostado a mim, qual Cristo-Rei de braços abertos num convite irrecusável. Em êxtase olho para ti, para ver na tua alegria o reflexo da minha felicidade. Nunca me senti tão confortada num abraço. Gostaria de acreditar num dEUS ao qual pudesse agradecer a dádiva que tu és. Encostas-te ao meu ombro, sobre o qual repousas a cabeça, e falas para mim naquela língua mágica que só tu e as fadas conhecem. Sorrio e fecho os olhos… Nunca me disseram que a felicidade era assim tão simples! Conforme te sinto a adormecer, a tua vulnerabilidade assusta-me. Conheço mais do mundo do que tu, ainda que o teu seja mais belo. Receio que o meu mundo polua e asfixie o teu. Só tenho uma certeza: foste feito para amar e sorrir!

sábado, 9 de julho de 2011

Facebook

Porque motivo as pessoas, no Facebook, enviam indiscriminadamente convites de amizade?  A pessoas que não vêem e com quem não falam há mais de uma década...  A pessoas que nunca viram e a quem nunca falaram...  A pessoas de quem nunca gostaram... 

Será assim tão importante passar dos 367 para os 368 amigos?

E, se temos assim tantos amigos "facebookianos", porque raio são sempre a mesma meia dúzia a telefonar-nos?