sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Imaginação: Perspectivas

Não há nada como acordar com uma carta, da pessoa certa, à nossa espera…

“Dear John


Há coisas que, de tão importantes, devem ser ditas por carta, de forma a termos a certeza que chegam claramente a quem se dirigem.  Dizem que as cartas de amor são ridículas…  talvez as de desamor sejam respeitáveis.  O amor, acabei por o descobrir mais tarde do que esperava, não é o sentimento egoísta e castrador que sinto por ti  ou sentia.  O amor é um sentimento nobre, avassalador, que não conhece limites.  Quando te conheci era uma miúda, sem saber nada da vida, cada dia era uma descoberta sobre mim mesma, uma aventura.  Foi uma fase confusa e desesperante que agora, em retrospectiva, agradeço ter vivido.  Ter-te conhecido nessa altura permitiu que te recebesse de braços abertos, quase grata, na minha vida.  Mas, à luz da pessoa que me tornei, uma pessoa que ainda que por vezes não goste adoro poder ser,   vejo que foi um tolo erro de criança quase mulher.  Como a compra precipitada de um par de calças que nunca se chega a usar.  A culpa não é tua.  Tu continuas a ser a mesma pessoa que eras há 15 anos atrás.  Talvez o problema seja esse!  Eu já não sou a mesma pessoa!  As minhas prioridades mudaram.  O mais importante para mim já não é o ser aceite…  É o ser verdadeira comigo mesma e com a pessoa que sou.  E, quando sentimos que mudamos, já não há nada a fazer senão aceitar essa mudança, crescer e aprender com ela e, no meu caso, escolher um novo caminho.  Por muito que deseje manter as coisas na mesma rotina (e, na verdade, não o desejo), não consigo viver mais tempo esta mentira.  Acordo agoniada pela realidade que me rodeia e anseio, mais que tudo, cortar as amarras que me prendem a um passado que já não quero.  Continuar esta mentira é acabar por te odiar e por me anular a cada dia que passa …  não quero mais sentir-me assim…  presa, amordaçada, morta para a vida.  Por isso parto…  para que aquilo que vivemos não se torne, para mim, um erro de proporções bíblicas e possa continuar a ser uma doce memória de infância.

Sara”

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