quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ideologias: Tantos "Dantas" que para aí há!!!

Durante alguns anos (mais do que o bom senso e a inteligência pediam, mas menos do que o necessário para terminar a licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas), fui diariamente recebida, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, pelos desenhos de José de Almada Negreiros.

O texto que se segue, emblemático, pungente e feroz, é “o” Texto de Almada Negreiros.  Quando, em 1915, foi publicada a revista “Orpheu”, o seu nascimento fez levantar vozes críticas que, ofendidas pelo Modernismo, Vanguarda e Novidade que esta trazia à arte em Portugal não pouparam apupos aos artistas que “ousaram” fugir aos cânones até aí permitidos.  Entre os seus críticos mais acérrimos estava Júlio Dantas, autor da peça de teatro “A Ceia dos Cardeais”.  Entre aqueles que procuravam uma nova abordagem à realidade artística estava José de Almada Negreiros.

Inteligentemente, Almada Negreiros fez da palavra uma arma, e disparou tiros certeiros contra a tradição conservadora e bolorenta de todos aqueles que não aceitaram a mudança…  aqui personificados na figura pública de Dantas!

Sei bem que já não temos revista de Orpheu, nem “Conferências do Casino” com a sua “Geração de 70”, nem mesmo, infelizmente, “A Lanterna Mágica” com o seu icónico Zé Povinho.  Mas temos, ainda, as palavras…  se ousarmos não nos calar!!!  Temos ainda a capacidade de pensar e criticar…  se o receio não nos subjugar os ideais.  Mas, para isso, temos de voltar a fazer uso em público da voz crítica, irónica e sarcástica que todos parecemos guardar para partilhar com amigos.  Neste momento, mais que uma necessidade, é um dever!  Porque, como nos grita Almada Negreiros “Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!”



Manifesto Anti-Dantas
Basta pum basta!!!
Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!
Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra! Pim!
Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!
Uma geração com um Dantas à proa é uma canoa em seco!
O Dantas é um cigano!
O Dantas é meio cigano!
O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!
O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!
O Dantas é um habilidoso!
O Dantas veste-se mal!
O Dantas usa ceroulas de malha!
O Dantas especula e inocula os concubinos!
O Dantas é Dantas!
O Dantas é Júlio!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas fez uma soror Mariana que tanto o podia ser como a soror Inês ou a Inês de Castro, ou a Leonor Teles, ou o Mestre d'Avis, ou a Dona Constança, ou a Nau Catrineta, ou a Maria Rapaz!
E o Dantas teve claque! E o Dantas teve palmas! E o Dantas agradeceu!
O Dantas é um ciganão!
Não é preciso ir pró Rossio pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!
Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever como o Dantas! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!
O Dantas é um autómato que deita pra fora o que a gente já sabe o que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!
O Dantas é um soneto dele-próprio!
O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.
O Dantas nu é horroroso!
O Dantas cheira mal da boca!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas é o escárnio da consciência!
Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!
O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa!
O Dantas é a meta da decadência mental!
E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas!
E ainda há quem lhe estenda a mão!
E quem lhe lave a roupa!
E quem tenha dó do Dantas!
E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!
Vocês não sabem quem é a soror Mariana do Dantas? Eu vou-lhes contar:
A princípio, por cartazes, entrevistas e outras preparações com as quais nada temos que ver, pensei tratar-se de soror Mariana Alcoforado a pseudo autora daquelas cartas francesas que dois ilustres senhores desta terra não descansaram enquanto não estragaram pra português, quando subiu o pano também não fui capaz de distinguir porque era noite muito escura e só depois de meio acto é que descobri que era de madrugada porque o bispo de Beja disse que tinha estado à espera do nascer do Sol!
A Mariana vem descendo uma escada estreitíssima mas não vem só, traz também o Chamilly que eu não cheguei a ver, ouvindo apenas uma voz muito conhecida aqui na Brasileira do Chiado. Pouco depois o bispo de Beja é que me disse que ele trazia calções vermelhos.
A Mariana e o Chamilly estão sozinhos em cena, e às escuras, dando a entender perfeitamente que fizeram indecências no quarto. Depois o Chamilly, completamente satisfeito, despede-se e salta pela janela com grande mágoa da freira lacrimosa. E ainda hoje os turistas têm ocasião de observar as grades arrombadas da janela do quinto andar do Convento da Conceição de Beja na Rua do Touro, por onde se diz que fugiu o célebre capitão de cavalos em Paris e dentista em Lisboa.
A Mariana que é histérica começa de chorar desatinadamente nos braços da sua confidente e excelente pau de cabeleira soror Inês.
Vêm descendo pla dita estreitíssima escada, várias Marianas, todas iguais e de candeias acesas, menos uma que usa óculos e bengala e ainda toda curvada prá frente o que quer dizer que é abadessa.
E seria até uma excelente personificação das bruxas de Goya se quando falasse não tivesse aquela voz tão fresca e maviosa da Tia Felicidade da vizinha do lado. E reparando nos dois vultos interroga espaçadamente com cadência, austeridade e imensa falta de corda... Quem está aí?... E de candeias apagadas?
- Foi o vento, dizem as pobres inocentes varadas de terror... E a abadessa que só é velha nos óculos, na bengala e em andar curvada prá frente manda tocar a sineta que é um dó d'alma o ouvi-la assim tão debilitada. Vão todas pró coro, mas eis que, de repente, batem no portão e sem se anunciar nem limpar-se da poeira, sobe a escada e entra plo salão um bispo de Beja que quando era novo fez brejeirices com a menina do chocolate.
Agora completamente emendado revela à abadessa que sabe por cartas que há homens que vão às mulheres do convento e que ainda há pouco vira um de cavalos a saltar pla janela. A abadessa diz que efectivamente já há tempos que vinha dando pela falta de galinhas e tão inocentinha, coitada, que naqueles oitenta anos ainda não teve tempo pra descobrir a razão da humanidade estar dividida em homens e mulheres. Depois de sérios embaraços do bispo é que ela deu com o atrevimento e mandou chamar as duas freiras de há pouco com as candeias apagadas. Nesta altura esta peça policial toma uma pedaço d'interesse porque o bispo ora parece um polícia de investigação disfarçado em bispo, ora um bispo com a falta de delicadeza de um polícia d'investigação, e tão perspicaz que descobre em menos de meio minuto o que o público já está farto de saber - que a Mariana dormiu com o Noel. O pior é que a Mariana foi à serra com as indiscrições do bispo e desata a berrar, a berrar como quem se estava marimbando pra tudo aquilo. Esteve mesmo muito perto de se estrear com um par de murros na coroa do bispo no que se mostrou de um atrevimento, de uma insolência e de uma decisão refilona que excedeu todas as expectativas.
Ouve-se uma corneta tocar uma marcha de clarins e Mariana sentindo nas patas dos cavalos toda a alma do seu preferido foi qual pardalito engaiolado a correr até às grades da janela gritar desalmadamente plo seu Noel. Grita, assobia e rodopia e pia e rasga-se e magoa-se e cai de costas com um acidente, do que já previamente tinha avisado o público e o pano também cai e o espectador também cai da paciência abaixo e desata numa destas pateadas tão enormes e tão monumentais que todos os jornais de Lisboa no dia seguinte foram unânimes naquele êxito teatral do Dantas.
A única consolação que os espectadores decentes tiveram foi a certeza de que aquilo não era a soror Mariana Alcoforado mas sim uma merdariana-aldantascufurado que tinha cheliques e exageros sexuais.
Continue o senhor Dantas a escrever assim que há-de ganhar muito com o Alcufurado e há-de ver que ainda apanha uma estátua de prata por um ourives do Porto, e uma exposição das maquetes pró seu monumento erecto por subscrição nacional do "Século" a favor dos feridos da guerra, e a Praça de Camões mudada em Praça Dr. Júlio Dantas, e com festas da cidade p'los aniversários, e sabonetes em conta "Júlio Dantas" e pastas Dantas p'rós dentes, e graxa Dantas p'rás botas e Niveína Dantas, e comprimidos Dantas, e autoclismos Dantas e Dantas, Dantas, Dantas, Dantas... E limonadas Dantas- Magnésia.
E fique sabendo o Dantas que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o Dantas que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões.
E fique sabendo o Dantas que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.
Mas julgais que nisto se resume literatura portuguesa? Não Mil vezes não!
Temos, além disto o Chianca que já fez rimas prá Aljubarrota que deixou de ser a derrota dos Castelhanos pra ser a derrota do Chianca.
E as pinoquices de Vasco Mendonça Alves passadas no tempo da avózinha! E as infelicidades de Ramada Curto! E o talento insólito de Urbano Rodrigues! E as gaitadas do Brun! E as traduções só pra homem do ilustríssimos excelentíssimo senhor Mello Barreto! E o frei Matta Nunes Moxo! E a Inês Sifilítica do Faustino! E as imbecelidades do Sousa Costa! E mais pedantices do Dantas! E Alberto Sousa, o Dantas do desenho! E os jornalistas do Século e da Capital e do Notícias e do Paiz e do Dia e da Nação e da República e da Lucta e de todos, todos os jornais! E os actores de todos os teatros! E todos os pintores das Belas-Artes e todos os artistas de Portugal que eu não gosto. E os da Águia do Porto e os palermas de Coimbra! E a estupidez do Oldemiro César e o Dr. José de Figueiredo Amante do Museu e ah oh os Sousa Pinto hu hi e os burros de cacilhas e os menos do Alfredo Guisado! E (o) raquítico Albino Forjaz de Sampaio, crítico da Lucta a quem Fialho com imensa piada intrujou de que tinha talento! E todos os que são políticos e artistas! E as exposições anuais das Belas-Arte(s)! E todas as maquetas do Marquês de Pombal! E as de Camões em Paris; e os Vaz, os Estrela, os Lacerda, os Lucena, os Rosa, os Costa, os Almeida, os Camacho, os Cunha, os Carneiro, os Barros, os Silva, os Gomes, os velhos, os idiotas, os arranjistas, os impotentes, os celerados, os vendidos, os imbecis, os párias, os ascetas, os Lopes, os Peixotos, os Motta, os Godinho, os Teixeira, os Câmara, os diabo que os leve, os Constantino, os Tertuliano, os Grave, os Mântua, os Bahia, os Mendonça, os Brazão, os Matos, os Alves, os Albuquerques, os Sousas e todos os Dantas que houver por aí!!!!!!!!!
E as convicções urgentes do homem Cristo Pai e as convicções catitas do homem Cristo Filho!...
E os concertos do Blanch! E as estátuas ao leme, ao Eça e ao despertar e a tudo! E tudo o que seja arte em Portugal! E tudo! Tudo por causa do Dantas!
Morra o Dantas, morra! Pim!
Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!
Morra o Dantas, morra! Pim!

José de Almada Negreiros
Poeta d'Orpheu
Futurista E Tudo
1915

terça-feira, 19 de abril de 2011

terça-feira, 12 de abril de 2011

Obesidade

Obesidade...
Uma das maiores pragas do mundo moderno...  Hoje em dia até as crianças são obesas...
Correndo o risco de parecer mais velha que aquilo que sou (ou, pelo menos, me sinto) tenho de dizer, enquanto abano a cabeça em reprovação, "no meu tempo não era nada assim!".  Claro que gostávamos de comer porcarias mas, na altura, o pior que comiamos era um bolicao, a esporádica embalagem de cheetos ou uma fatia de pão barrada com tulicreme (ainda existe???) ou nucrema.  E nem pensar em comer isso todos os dias!!!  Os pais, ao contrário desta nova geração parental, recusavam ceder às nossas lágrimas e ao bater do pé, acusador, que dirigiamos na sua direcção.  "Não!" era "Não!" e não havia discussão!
Mas, na nossa sociedade, a palavra "Não" é, cada vez mais, uma raridade.  Tenho, quanto a isso, uma teoria! 
A minha geração (e a que veio um pouco antes e, também, a que veio a seguir) não aceita ouvir um "Não!" às suas aspirações...  Não aceitam um não quanto à compra da casa, ao crédito do cartão (que se quer ilimitado), às férias no estrangeiro e à quinzena no Algarve (que, nem com o endividamento em que estão, se recusam a abdicar)...  Sentem-se no direito a tudo e não aceitam "Não!" como resposta.  E, assim, perdem o controlo e a familiaridade com a palavra...  Tornou-se estranha...  Incompreensível...  E, assim sendo, não a podem partilhar e ensinar aos filhos!
E, nessa busca incessante pelo "El Dorado" do consumismo, derretem-se perante a mais pequena imagem dos EUA...  Afinal, é essa a terra dos sonhos, não é?  Aquele lugar mágico a que os sonhadores chegam às mãos cheias, "looking for the american dream".
E, partindo, precisamente, desta permissa, deixo aqui uma lista de verdadeiras "delícias" norte-americanas, para quem quiser apostar no crescente diâmetro "barrigal".  Tudo do bom!!!  Tudo frito!!!

  1. Deep fried s’mores Pop-Tart - deep fried chocolate, peanut butter and s’mores Pop-Tart, battered and served with chocolate syrup and whipped cream. - Huuuummmm, um frito de chocolate e manteiga de amendoim...  Delícia!  O quê?  Regado com calda de chocolate e com natas?  Ainda melhor!!!
  2. Fried beer – beer filled battered and fried pretzel pocket. - Cerveja frita???  Dentro de um Pretzel?  Boa!  Já podem vir ver a bola cá a casa...  Já tenho bebida e aperitivos!
  3. Deep fried frozen maragarita – margarita flavored funnel cake served in a salt rimmed glass - Bolo frito com sabor a margaritas?  Oh pá, vocês sabem como agradar a uma mulher!!!
  4. Fried chocolate – candy bar and cherry stuffed inside a brownie, dipped in chocolate cake batter and fried. Served with cherry sauce and chocolate whipped cream. - Ok...  Agora fiquei indecisa entre este e o primeiro (é o que acontece quando somos confrontados com petiscos gourmet)
  5. Fried lemonade – lemon flavored pastry baked and fried served with lemonade glaze. - Esta é uma excelente opção para o Verão que se aproxima!  Eu, pelo menos, acho que a acidez do limão é reconfortante em dias quentes...  Frito deve ser ainda melhor!  (adeus, "Bolas de Berlim" na praia, agora só dá "Fried Lemonade")
  6. Fernie’s fried club salad – 12″ spinach wrap filled with ham, chicken, lettuce and tomatoes – deep fried and topped with croutons and served on a stick. - Ainda alguém se lembra de quando comer saladas era saudável???  Aaahhhhhhh, sweet memories.
  7. Texas fried caviar – fried black eyed peas, served with “special sauce”. - Ok...  Caviar, caviar não será...  Mas quem quer ovas de peixe podendo comer feijão frade frito?
  8. Texas fried Frito pie – traditional Texas Frito pie, battered and deep fried - Este, para que não restem dúvidas, até é bilingue...  É "fried" e é "frito"

domingo, 10 de abril de 2011

as boas ideias nunca são aproveitadas...

Fui mãe à pouco tempo...  No dia 31 de Outubro, às 5 e 57 a tarde, para ser mais precisa (tão a ver a ligação ao nome do blog?).  E faço parte de um grupo de mamãs que tiveram os filhotes em Dezembro (o meu pipoca também era para nascer no último mês do ano, a dia 17, mas estava tão ansioso para conhecer a mamã que chegou 7 semanas antes).  Ora, nesse grupo, há muitas mamãs desempregadas que ou já o tavam na altura de engravidar ou, por estarem em situações precárias ou a recibos verdes, levaram um xuto ao anunciarem as respectivas gravidezes aos patrões.  Vai daí, e depois de ter visto este vídeo, tive uma ideia brilhante...  podiamos fazer disto negócio!!! Tipo linha de montagem! Punhamos um tapete rolante com uma secadora tipo lavagem de carros à ponta e era todo o dia nisto! Até era bom para as meninas que estão desempregadas... Ficávamos empresárias por conta própria... Até planeei a maneira de sermos mais produtivas:  a 1ª molha - tapete rolante - a 2ª põe champô - tapete rolante - a 3ª tira champô - tapete rolante - a 4ª ensaboa - tapete rolante - a 5ª tira o sabão - tapete rolante - secadora industrial!!!  E qual foi a resposta???  Nem uma se apercebeu do enorme potencial desta minha ideia...  Nem uma saltou de alegria perante um plano tão bom...  Depois queixem-se da crise e do desemprego...  As boas ideias nunca são aproveitadas neste País!...

sábado, 9 de abril de 2011

Amor é...

Amor é...

Guardar o esparguete à bolonhesa, acabado de fazer, no frigorífico porque a nossa cara metade diz que está cansado, quer dormir e não tem fome...  e, de seguida, ir fazer uma caneca de papa Cérelac porque ele decide que, afinal, não quer ir para a cama de estômago vazio.

                                                   Kim Casali

Ideologias: Como isto vai...

Ontem, eu e o "namorido", sentámo-nos em frente à televisão e acompanhámos, compenetrados, o congresso do PS, na RTPn...  Admito, não é o programa mais romântico para uma sexta à noite...  Mas não é a nossa vida sentimental que nos preocupa!
Sempre me interessei por política!
Minto!  Sempre dei valor ao poder que o voto de cada um pode ter na direcção política de um País!
Principalmente, sendo mulher, sempre tive presente que, até há bem pouco tempo, as minhas antepassadas não tiveram uma voz activa nessa direcção.  Acho que isso sempre me fez pensar que não posso, por mim e por elas, desperdiçar a voz que me foi dada.  Voto sempre!  Desde os meus 18 anos!  Sejam eleições, referendos,...  Sempre que somos chamados a dar a nossa opinião de cidadãos, lá vou eu...  de caneta em punho!
E, por isso, acho uma negligência não nos tentarmos informar sobre as bases em que se assentam cada um dos partidos e chegar-se ao local de voto para se por a cruz ao lado da cara que mais nos atrai ou dar o voto ao político cuja gravata tem o tom de azul que mais fala à nossa sensibilidade artística.
Mas, cada vez mais, encontro um problema...  Antigamente, ser-se de direita ou de esquerda dizia logo muito sobre as nossas ideologias.  Hoje em dia, pelo que vejo e ouço, sinto que essa divisão partidária e ideológica está extinta.  Os discursos dos principais partidos, de um espectro ao outro, são repetitivos, semelhantes e cruzam-se independentemente da cor de quem os profere.  Não é para admirar que o povo, cada vez mais, se refugie em shoppings nos dias de voto e prefira escolher entre a Zara e a Mango que entre o rosa-PS e a laranja-PSD.
Quando sabemos que PPC, líder do maior partido da oposição (que, até ver, era um partido de direita) começou as suas lides políticas nos meandros do PCP...  Que bloquistas e laranjinhas se unem na tarefa de fazer cair a rosa murcha...  Que as cassetes que se ouvem não se modernizam e tocam, ainda, as mesmas músicas gastas cuja letra, de tão repetida, deixou de ter valor...  Que as Portas azuis só se importam em abrir em proveito próprio...  Como podemos nós, que temos de tomar decisões no meio desta confusão, conseguir fazer algum sentido deste cocktail político que somos obrigados a beber?
Ontem foi dia de congresso do PS...  E, o que mais me assustou, ao assistir às promessas, críticas, ameaças políticas e plano de oferta que Sócrates debitou durante o seu discurso foi...  que o ex-PM até faz sentido quando fala assim...  Pior...  Quando lhes dão direito de antena e tempo suficiente para nos irem lavando a alma e o cérebro...  TODOS eles fazem sentido!  É isto a Política!!!  E, quem não souber de antemão qual o seu ideal, quais as suas simpatias partidárias, qual a sua linha política...  Só tem mesmo a cor da gravata para decidir em quem votar!

terça-feira, 8 de março de 2011

Ideologias: Saúde

Sei que já passou mais de duas semanas desde que a revista saiu, mas não posso deixar de falar da entrevista de José Manuel Silva (Bastonário dos Médicos) à revista Visão (nº 936, de 10 a 16 de Fevereiro).

Começo por dizer que gostei do que li e que fiquei com uma boa impressão do homem que, sem subterfúgios, respondeu às questões colocadas.  De todas, 2 respostas ficaram a bailar-me na cabeça...  uma pela positiva, outra nem tanto.

À questão "Como deve, então, ser financiado o SNS?", José Manuel Silva responde:
"O problema não está tanto no financiamento, mas na gestão, nas formas de combater o desperdício.  Quando, hoje, se põe em causa a sobrevivência do SNS, isso tem a ver com interesses privados.  O papel destes é importante como complemento, suprindo falhas do SNS, e, como alternativa, para quem tiver seguros.  Fora isso, veja-se o caso dos EUA, que são o paradigma da medicina privada.  Têm a medicina mais cara do munndo, mas surgem na classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS) muito abaixo de nós.  Além disso, o SNS é o melhor serviço público português."

Vou deixar passar a última frase sem comentário pois não foi ela que granjeou a minha concordância.  Estou, isso sim, de acordo com as afirmações sobre a privatização da Saúde e do (mau) exemplo que nos surge, nessa área, dos EUA.
Basta olharmos para a realidade americana para percebermos que, ao se privatizar os serviços básicos de saúde, estamos a contribuir para um elitismo social em que, ao contrário do que vemos agora, grande parte da população fica privada de algo que é (ou deveria ser) um direito inerente a todos.  Os jogos e compadrios de bastidores, entre governo e farmacêuticas, impedem o acesso dos extratos mais baixos a uma área que é uma necessidade e não um luxo.  Quem tem dinheiro poderá ter a possibilidade de conseguir a cura, quem não o tem vive com a doença.
Desde que vi os documentários "Sicko" de Michael Moore e "30 Days Working for the Minimum Wage" de Morgan Spurlock, fiquei ainda mais estarrecida e, devo admiti-lo, receosa pelo sistema de saúde norte-americano...  Deus me livre de adoecer em solo do Tio Sam!
O primeiro vê o autor e realizador de "Bowling for Columbine" e "Fahrenheit 9/11" a fazer um retrato político-social do serviço nacional de saúde, comparando-o, depois, a outros países como o Canadá, Cuba ou Inglaterra.  Fazendo-se acompanhar, por vezes, por um grupo de sobreviventes e voluntários do 11 de Setembro, Moore denuncia não só o mau resultado dos serviços elitistas de saúde, como demonstra que o governo Norte-Americano não tem consideração, sequer, pelos chamados "heróis nacionais" dos quais se está sempre a gabar, em campanhas de puro marketing político.  Aumentando a controvérsia, leva o grupo consigo, primeiro a Guantanamo, à famosa prisão onde, curiosamente, os tratamentos e consultas são gratuitos.  Não tendo permissão para entrar, vão "já ali ao lado", a Cuba, nação criticada pelos sucessivos governos dos EUA, por ser o "diabo vermelho" do comunismo, ali tão perto.  As portas das clinicas cubanas abrem-se ao grupo, que é finalmente visto e correctamente diagnosticado e que avia as receitas por míseros dólares, ao invés das centenas exigidas no seu país.
Analizando os serviços de saúde de outros países, Moore mostra ainda que os médicos americanos, passiveis de temer cortes salariais e/ou benesses por parte das farmacêuticas, não devem temer uma vida frugal e de dificuldades.  Muito pelo contrário, podem, isso implementar um programa em que os médicos sejam compensados pelos êxitos e não premiados pelos jogos de interesse.



Quanto ao "30 Days Working for the Minimum Wage" de Morgan Spurlock (mais conhecido pelo seu documentário "Super Size Me" no qual, durante 30 dias - se não estou em erro - fez todas as suas refeições na McDonald's - experiência que no final brindou com uma vistoria médica que lhe disse o que já todos nós sabemos...  que a fast food tem muito de fast e pouco de food) foi um verdadeiro abre-olhos para a realidade de milhões de norte-americanos que não possuem seguros de saúde.  Spurlock e a sua namorada comprometem-se a viver 30 dias com o ordenado mínimo nacional...  Ora, para quem ganha o ordenado mínimo não existe a "regalia" de ter direito a seguro de saúde e, assim sendo, que Deus (essa entidade sempre na boca dos "bem-intencionados" americanos) tenha compaixão deles e nunca os deixe adoecer...  Não foi o que aconteceu aos dois.  Tendo ficado doentes na mesma altura dirigem-se ao hospital para serem diagnosticados...  Uma infecção urinária para ela, um problema muscular para ele e...  menos cerca de 1000 USD para os 2!  Sim...  1000  (MIL) dólares só para lhes serem diagnosticadas as maleitas...  E, de receita na mão, já atolados na dívida das consultas, há que decidir qual dos dois está pior de forma a se decidir qual a receita a aviar.  É muito triste que um país gooze assim com a pobreza e a saúde dos seus cidadãos...  E a perspectiva de essa vir a ser, alguma vez, a realidade portuguesa gela-me o sangue nas veias!!!  (e EU tenho seguro de saúde!)

A segunda resposta de José Manuel Silva a merecer a minha atenção foi a dada à afirmação "Mas é indesmentível que o défice do sector cresce de ano para ano".

"É um défice absolutamente artificial, determinado pelo próprio Estado.  O valor de cada acto médico praticado nos hospitais é fixado pelo Estado.  Haver mais ou menos défice depende dos valores atribuídos.  Uma das formas de o Estado poupar, com grandes ganhos para os doentes, seria reorganizar os hospitais por patologias e não por serviços.  É, de resto, o qe propõem Michael Porter, um grande economista da Saúde.  Um diabético tem de ir a consultas a vários serviços hospitalares, devido a problemas resultantes da mesma doença.  Deveria poder solucioná-los todos no mesmo serviço, destinado à diabetes.  A aposta tem de ser na qualidade e não nos números da Saúde, quantas vezes manipulados."

Ora bem...  No papel, em teoria, a ideia apresentada pelo Bastonário seria, realmente, um ideal não só de Serviço de Saúde mas também de facilitismo para o utente português, tantas vezes em labirinticas visitas a hospitais, serviços e consultóros.  Na prática...  Não sei se este ideal utópico me parece viável!  Na verdade, convivendo com as voltas hospitalares da minha mãe há mais de vinte anos, sinto que, por exemplo no seu caso, não seria assim tão fácil a concentração de todos os serviços que tem de visitar num só hospital.  Quando eu tinha cerca de 7 anos a minha mãe adoeceu...  Algum tempo mais tarde, e após inúmeros diagnósticos errados, foi-lhe diagnosticado Lúpus.  Depois disso já teve vários problemas derivados da doença (dores articulares, deficiências renais, anemias, etc etc etc) sendo todos esses problemas seguidos pelo seu médico no Hospital Curry Cabral.  Até aqui tudo certo, e tudo em conformidade com o proposto por José Manuel Silva.  No entanto, e nos últimos anos, a minha mãe teve também de tirar um peito e foi-lhe diagnosticado diabetes (insulino-dependentes)...  É acompanhada, para estes dois problemas, em 2 outras instalações hospitalares; o Hospital onde tirou o peito e fez quimio, e a associação dos diabéticos.  A minha questão é a seguinte...  a fazer fé na ideia do Bastonário dos Médicos, e fazendo valer a sua ideia até à mais ínfima vírgula, a minha mãe deveria ser vista, para estes dois "novos" problemas, também no Curry Cabral.  Isto porque, segundo os médicos que a seguem, ambos os problemas foram derivados da sua primeira maleita: o Lúpus.  A saber; os diabetes aparecera porque a cortisona de que a minha mãe é dependente há vinte anos aumentou-lhe significativamente os níveis de açucar no sangue (os quais - valores - o seu organismo não consegue regular por si mesmo) e o peito teve de ser retirado pois, por causa do Lúpus, as anomalias que surgiram nas células da mama poderiam agravar-se rapidamente e espalhar-se a outras partes do corpo.  Bem, eu, como filha de uma paciente que tem sido bem cuidada nos serviços a que vai, atrevo-me a dizer que, para os doentes com Lúpus, não haveria hospital em que coubessem serviços que abrangessem todas as possíveis complicações a advir da doença...  Sendo esta uma doença pessoal, em que cada caso é um caso e em que não parecem haver 2 pacientes com os mesmos sintomas, tornar-se-ia impraticável ter um hospital só dedicado ao Lúpus. É uma bela ideia...  mas apenas isso...  uma ideia!